fevereiro 27, 2011

O ZOOM DE ALICE – 26.02.11

Parecia estar tudo dentro da normalidade e previsibilidade que costumam garantir a Alice a segurança e a vontade de estudar, ler, reler, treler e continuar assim com a vida dentro dos parâmetros que não fogem aos polímeros. Estes são moléculas menores que se combinam em moléculas maiores.

Resumindo, é a base da teoria de reciclagem que derrete tudo e funde depois. É o que ocorre por agora com Alice. Ela está em transformação de tal sorte que não sabe exatamente no que vai dar.

Em não sabendo, vai seguindo seus dias gastando fosfato que não viceja mais como antigamente em sua horta mental. Apesar disso, não sabe como reviver sentimentos há muito desinstalados que se perderam numa estrada trilhada ontem, mas sentindo ser uma estrada muito antiga.


Assim, entre saber e viver, ela decidiu que viver é bem mais urgente. E o saber deve ter seu espaço reservado, porém sem a exclusividade de então. Mas, onde ela encontra o manual de instrução sobre comportamentos, relacionamentos e coisas assim?


Ficou mal acostumada aos estudos, achando que tudo na vida se resolve estudando. Agora precisa de uma companhia, já eleita, determinada e determinável, com objeto lícito que aparentemente também tem vontade.


Parecendo ser essa vontade comum, cabe saber quem irá decidir por eles dois. Qual tomará a iniciativa. Alice já cuidou de demonstrar que reconhece nele o seu semelhante não só em espécie, mas em gênero, gostos, afinidades e tudo mais em comum que possam ter. E são muitas coisas.


São tantas coisas em comum, que Alice andava pensando que ninguém no mundo deveria gostar das coisas das quais gosta. Assustou-se sobremaneira ao perceber a exceção a essa regra.


Bom, de todo o exposto, Alice quer agora um bom motivo que a retire da mesa ou da cama, sempre cheia de livros, com tempos medidos e vontades pesadas para transitar num outro universo quase desconhecido: o das pessoas que dedicam um pouco do seu tempo a entender, conviver e desperdiçar com outra pessoa próxima. Tudo naturalmente sem se sentir burra porque viver pode ser tão rico quanto entender a teoria dos polímeros ou coisa que o valha.

fevereiro 19, 2011

TATEANDO SEM TOCAR – 17.02.11

Seria assim como um dia de hoje, prestes a terminar mais precisamente daqui a três minutos, quando Alice teria motivos para comemorar. Tem andado tateando sem tocar em nada nem ninguém, tentando descobrir a textura, a cor, o cheiro, tudo sem poder ver.
Nas mãos é como se tivesse grossas luvas, nos pés, tornozeleiras de areia mais pesadas do que suportam suas finas canelas e nos olhos, óculos multifocal a embaçar concomitantemente a sua vontade de ler.
É assim o grau de dificuldade por que passa, mais enfaticamente quando o assunto é encontrar um homem, aquele exceto todos os demais sobre a face da terra com o qual poderia projetar em épura um lindo traçado em ângulos acutângulos, talvez obtusângulos, tão reais e concretos como não tem sido a sua visão masculina de agora.
Pensando melhor, pode ser que sua visão já tenha sido gerada assim, desfocada de tal forma que não se desse conta até então, razão para tanto equívoco.
Mas hoje ela viu seu coração inscrito num triângulo, exatamente o acutângulo, tendo ocasionalmente descoberto porque tem evitado relacionamento com homens, ainda que somente para conversar, trocar assuntos interessantes que não passem por novelas, reality shows, e que até podem passar, mas como um enfoque comportamental da nossa sociedade.
Pareceu-lhe mais complexo do que entender a trigonometria dos ângulos. Interessante ressaltar que não tem onde encontrar tais dados que viabilizem a pesquisa. Também não estaria algum coordenador disponível para viabilizar o projeto de Alice – o de encontrar alguém capaz de tornar amenas as horas de ócio; aquelas em que não quer assistir TV, filme, ler, nada disso.
Hoje ela tateou no escuro uma vez mais. Parece que está buscando o domínio desta técnica. Quem sabe não lhe sejam as últimas tentativas em busca do homem com quem poderia conversar sem ser aviltada, aquilatada com valor equivocado, ou pior, julgada apenas pela aparência, a qual nunca conseguiu expor de pronto sem uma dose de proteção para camuflar fragilidades.
Também, na sequência de equívocos não lhe restou opção que não a de observar e imaginar que o seu símil possa estar bem ali, atravessando a rua, talvez com a mesma vontade de conversar sobre filmes, livros, cinema, música. E tudo assim, com a mesma intensidade que julga necessária para uma boa prosa, capaz até de desencadear amizade ou outros interesses.
Pode ser que a amizade aconteça casualmente. Também pode ser que não. Dizem que os símeis se repelem e que a busca deve concentrar-se nos opostos. Disso discorda Alice.
Ainda espera que as pessoas não estejam alheias ao fato de serem tão próximas em interesses e que ao menos alguém possa reconhecer o valor dessa semelhança, e finalmente, suplantar sua descrença tentando uma efetivação de um tatear com probabilidade de êxito merecido posto que buscado.

fevereiro 12, 2011

SOBRE OS HUMANOS

De onde vem a importância atribuída aos humanos? Para a maioria isto se deve ao fator inteligência. Para outros poderia se atribuir como diferenciação básica entre o homem, os animais e vegetais, a existência da sua alma.
Aí começamos a pensar na enorme importância que pode uma alma atribuir ao seu dono. É ela que nos diferencia dos restos humanos sem vida atirados sobre a terra e que ali se desintegram com o passar dos anos. Em cheirando mal, tais enterros poderiam ao menos fecundar a terra. Ao contrário, são causa de poluição.
Comparado aos animais, vem o homem encabeçando a lista de importância sobre estes, além de se julgarem únicos mandantes da terra, até provem outras manifestações de vida, já que os cientistas acabam de suscitar a existência de novos planetas a gravitar fora do nosso sistema solar; sem saber exatamente o que se tem por lá.
Demais disso, a importância do homem sobre os animais vem de forma insólita, vez que alma não se classifica ainda em nenhum filo. E sua inteligência só se faz medida porque se utiliza da fala. Vendo melhor, os defeitos dos humanos comparados aos animais, são flagrantes as vantagens que dão ao homem a soberania de mão beijada.
Partindo dos olhos de certos insetos que movem-se em ângulos de cujo raio não escapa nenhuma presa; bem assim com línguas que capturam alimento, além de outros organismos minúsculos que se dividem e se multiplicam devido ao seu próprio esforço, fica notória a fragilidade da visão humana que executa tamanhas complexidades.
Sendo assim, não nos resta tantas glórias que elevem nosso intelecto e nossa alma ao epicentro de nós mesmos. Somos todos iguais, desconhecidos de muitos filos, classes, ordens e sistemas, tanto quanto o somos do nosso próprio irmão.
Acaso conhece bem na intimidade os segredos, as intenções e os sonhos do seu irmão? E entende esses mesmos sonhos, divide e partilha com ele os caminhos pelos quais um dia poderão se concretizar?
A verdade é que cuidamos bem pouco do nosso redor, seja das pessoas que dizemos gostar, seja do meio ambiente com outras formas de vida, seja da nossa própria alma, tão desconhecida, deixada de lado, perdida no vazio que silenciosamente produzimos.

fevereiro 06, 2011

QUANDO OS FILHOS VIRAM PAIS – 06.02.11


Acontece gradualmente com a idade dos pais aumentando. Entretanto, nosso despertar como filhos demora um pouco para acontecer. E então, num belo dia você percebe seu pai menos imponente, cabisbaixo.
Sua mãe parece alheia aos novos aprendizados ainda essenciais, porém, não mais para ela. Importa-se bem menos com suas coisas materiais e pessoais que até ontem ela cuidava a contento.
Triste é perceber um sem número de famílias, cheias de membros prontos a ajudar, desde que tenham uma recompensa. Aí a gente pensa naqueles pais que não têm renda. Como ficam os seus cuidados?
Cada um deve dar conta de cuidar dos pais da melhor forma que puder, sobretudo quando estes começam a desanimar gradativamente das suas coisas, da sua vida.
Não podendo, devem então facilitar para que as coisas deles sejam resolvidas sem grandes esforços como se impunham em outros tempos. Isto seria o mínimo a se fazer para amenizar fases da vida que não demoram tanto para chegar.
No mais das vezes, o que ocorre é que devido à fragilidade exposta diante dos familiares, dificilmente vem uma ajuda espontânea, desinteressada. Para socorrer os pais que não podem mais administrar seus bens, aparece a figura do filho administrador, que toma para si um salário por tal encargo.
A forma convencional que qualquer pai espera é de uma atenção gratuita, por simpatia, o que nem sempre entende-se viável no âmbito familiar devido às rusgas e desavenças, talvez.
Um filho há que pensar então que esteja praticando um ato que faria até mesmo a um estranho. Por que não a um pai? Ainda que o histórico familiar não venha a colaborar com esta posição, a gratidão pelos acertos é uma parcela que pode ajudar no ânimo daqueles que já não têm a força e a disposição de outros tempos.
Desta forma, a justiça, sobretudo a gratuita, teria muito menos casos deste tipo diante de si, sem oferecer garantia do cumprimento do dever, uma vez que na justiça nem sempre ganhar é obter.