julho 04, 2010

VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? - 04.07.10

Foi ontem quando Alice revia valores acerca da ajuda ao próximo que toda incoerência se manifestou. Pensou de forma a sumarizar razões e não encontrou justificativa. Pensou um pouco mais, agora de forma a subtrair muitos questionamentos acerca da fome que as pessoas têm.
Foi ontem quando Alice tentava praticar exercícios outros, além dos quais julga justos, proporcionais, não encontrando o peso certo das coisas. Continuou pensando, por ora tentando justificativa para palavras, atos, ações e omissões.
Dos longos anos dedicados à prática ininterrupta que já se consolidou como exercício para não abandonar a ideia de ser gente, já se sente segura para escrever o que pensa, ainda que se arrependa depois, porém, sem deixar-se esquivar daquilo que deve ser dito, algumas vezes sem sucesso na oralidade.
Sobre a ajuda ao semelhante, deduziu que existem alguns escolhidos para esse mister, os mesmos que não questionam, sendo capazes de empreender ajuda sem grandes tormentos acerca do seu efeito sobre as almas ajudadas.
Tal efeito não é inoculado em Alice, que se preocupa com as causas por que ajudar e com o efeito de não ajudar. Talvez ocorresse um resquício matemático do qual não conseguisse escapar e assim, termina as questões com uma racionalização da qual não conseguisse fugir.
Também é assim quando coloca voz na boca de Alice e pergunta: “Você tem fome de quê?”, ao que decepcionada, reconhece muita fome nas pessoas. Vê uma fome além do que podem efetivamente bancar.
Olha para todos os lados e percebe estarrecida o que a falta consegue fazer com cabeças ambiciosas. Quanta vez uma pessoa tenta buscar aquilo que não tem ao esforço da ignorância de valores e da importância que pode advir da conquista suada por algo material.
O mundo começa um movimento de solidariedade um tanto remissivo que pode se transformar em “mea culpa”, ignorando por vezes que a ajuda exige tanta ou mais atenção do que o próprio abandono por que passam.
No abandono muitos podem sair fortalecidos e aptos a buscar a ajuda na exata proporção da sua necessidade, ou seja, aquela apenas momentânea que deve impulsionar para novas tentativas de erguer-se por si só.
Na ajuda abundante esta chance é eliminada, atribuindo uma sensação equivocada de que tudo será suprido e do todo podemos ter uma parte; com o detalhe de eliminar o esforço para tal conquista.
Equacionando um pouco mais, tem Alice que calcular e descobrir com o requinte que a tarefa exige, o valor exato desta equação de forma a ajudar sem sentir-se uma aliciadora, e de negar a continuidade desta de modo a não se sentir uma insensível aos apelos dos necessitados.
Alice olhou à volta e viu a necessidade suprema e difícil de começar dentro da própria casa, sem saber exatamente como clarificar a importância do limite da ajuda, embora soubesse o ponto de origem por onde os sintomas de alienação se instalam.
Conhecida que se fez dos sintomas tipicamente desencadeados em consequência da alienação, tendo a precisa consciência do tamanho do estrago que isto provoca; e de toda a dificuldade em erradicar esse hábito depois de instalado com ânimo de dono, ela fez revista a sua posição, julgando-se ao final, incapaz de calcular o valor final da tal equação e, por conseguinte, julga-se incapaz para ajudar e incapaz para deixar de ajudar.
Chegou por fim ao impasse que lhe consome os dias de reflexão, dos quais tenta fugir numas horas, ganha força para o contraataque em outras, sabendo restar-lhe apenas o que sempre a coloca a salvo de si mesma: seus estudos.
Espera a moça sinceramente, encontrar uma resposta para a equação. Queria ela que a vida fosse assim previsível, calculável. Mas, depois de debater-se em meio aos óculos embaçados, porém desta feita pressentindo a existência de uma força além da sua nesta busca, aquieta-se diante de tamanha impotência. Mas promete retornar aos fatos numa outra hora. Por agora, quisera ela apenas um bom papo, desses que não necessitam muita comida nem tanta bebida.

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