setembro 20, 2008

REAVALIANDO – 20.09.08




Outro dia assisti uma entrevista num programa de literatura na televisão onde os
escritores portugueses e espanhóis eram a tônica; programa que continuo assistindo sistematicamente, sendo trocado até mesmo por uma companhia que não goste de tal, onde o escritor português enumerava as diferenças de inspiração e de ritmo na escrita e ordenação das idéias, bem diversa daquela fluência obtida diante do teclado do computador. Até mesmo a qualidade dos seus textos ganhava tendências diferentes.

Resolvi testar; na verdade, retornar às origens quando qualquer pedaço de papel vinha em meu socorro para aliviar-me das idéias que massacravam e continuam massacrando numa progressão geométrica, meus neurônios cada vez mais precisados de selênio e zinco.

Reavaliando esta minha tendência primordial, depois de não conseguir com o mesmo sucesso no computador de mesa, tentei também com o notebook, que também poderia funcionar muito bem se levado ao sol.

Como pedisse demais, seguindo os caminhos desta experiência que relatou a diferença entre ambos os procedimentos, voltei a apreciar o deslizar da caneta na folha branca de papel, trabalhando o meu lado esquerdo do cérebro, comandado pela minha mão direita, que ora escreve, escreve e escreve.

Já no computador, valendo-me das duas mãos, ativo os dois lados cerebrais, o que pode em mim, particularmente, gerar maior cansaço, como tenho sentido ultimamente e deduzido de forma intuitiva.

Demais disso, some-se o prazer de escrever e rabiscar, um exercício que busca competir com a velocidade do pensamento. Com um pouco de sorte e de cuidado quanto ao futuro do ecossistema, não haveremos de falar em falta de papel para registrar de forma direta, incisiva e visível a todos, o que temos como arte no nosso íntimo.

Assim, este meu caderno ganhado em presente vindo de outras terras, transita sem sair do lugar por uma gama de variações maiores que as climáticas. Inicio o caderno com desenhos de interiores com nanquim e pastel. Depois, uns relatos da mais longa viagem que fiz, esperando ser uma dentre outras séries por vir. A seguir, alguns resumos de programas de literatura televisiva; uma passagem breve sobre o “page maker” e “corel draw”, cursos que não levei adiante. Depois vêm auto-aulas de inglês e francês, com retorno do inglês com professor. Nada disto se salvou, exceto o registro no caderno.

Então, voltei para a literatura, de onde não deveria ter saído. Por fim, ao “English” agora para permanecer. Na seqüência, montei uma tabela de contas que, exatamente como a do Excel também não foi introduzida como hábito.

Como se tratasse de um “Caderno do Cordel Encantado”, quase com super-poderes, do qual se diz “Eu Tenho a Força”, por influenciar-me quando estou sem quaisquer influências, vem ao final, uma seqüência de receitas culinárias especiais (algumas exóticas), para apreciadores também especiais, portanto não identificados até então.

Sem falar, na minha trajetória pelo sistema de informática ao longo dos anos, com um sem número de senhas, logins e passwords. Tudo “criptoescrito” de forma que somente eu compreenda. Finalmente, na contra-capa uma oração à Santo Antônio, forçando o caderno a se tornar um achado de cabeceira, o que também não tem sido.
Na capa, fechando em grande estilo, e nesta data somando mais este texto ao acervo, um desenho dos correios internacionais cujo presente é lançado por um de um lado do oceano e laçado por outro, do outro lado, talvez uma tentativa vã de eternizar um presente que gostasse de receber. E aqui no meio, eu, que ora experimento mais uma vez o supremo prazer de escrever aqui ao sol, longe do ship, seus selênios e ares refrigerados.

Marcadores: