fevereiro 19, 2011

TATEANDO SEM TOCAR – 17.02.11

Seria assim como um dia de hoje, prestes a terminar mais precisamente daqui a três minutos, quando Alice teria motivos para comemorar. Tem andado tateando sem tocar em nada nem ninguém, tentando descobrir a textura, a cor, o cheiro, tudo sem poder ver.
Nas mãos é como se tivesse grossas luvas, nos pés, tornozeleiras de areia mais pesadas do que suportam suas finas canelas e nos olhos, óculos multifocal a embaçar concomitantemente a sua vontade de ler.
É assim o grau de dificuldade por que passa, mais enfaticamente quando o assunto é encontrar um homem, aquele exceto todos os demais sobre a face da terra com o qual poderia projetar em épura um lindo traçado em ângulos acutângulos, talvez obtusângulos, tão reais e concretos como não tem sido a sua visão masculina de agora.
Pensando melhor, pode ser que sua visão já tenha sido gerada assim, desfocada de tal forma que não se desse conta até então, razão para tanto equívoco.
Mas hoje ela viu seu coração inscrito num triângulo, exatamente o acutângulo, tendo ocasionalmente descoberto porque tem evitado relacionamento com homens, ainda que somente para conversar, trocar assuntos interessantes que não passem por novelas, reality shows, e que até podem passar, mas como um enfoque comportamental da nossa sociedade.
Pareceu-lhe mais complexo do que entender a trigonometria dos ângulos. Interessante ressaltar que não tem onde encontrar tais dados que viabilizem a pesquisa. Também não estaria algum coordenador disponível para viabilizar o projeto de Alice – o de encontrar alguém capaz de tornar amenas as horas de ócio; aquelas em que não quer assistir TV, filme, ler, nada disso.
Hoje ela tateou no escuro uma vez mais. Parece que está buscando o domínio desta técnica. Quem sabe não lhe sejam as últimas tentativas em busca do homem com quem poderia conversar sem ser aviltada, aquilatada com valor equivocado, ou pior, julgada apenas pela aparência, a qual nunca conseguiu expor de pronto sem uma dose de proteção para camuflar fragilidades.
Também, na sequência de equívocos não lhe restou opção que não a de observar e imaginar que o seu símil possa estar bem ali, atravessando a rua, talvez com a mesma vontade de conversar sobre filmes, livros, cinema, música. E tudo assim, com a mesma intensidade que julga necessária para uma boa prosa, capaz até de desencadear amizade ou outros interesses.
Pode ser que a amizade aconteça casualmente. Também pode ser que não. Dizem que os símeis se repelem e que a busca deve concentrar-se nos opostos. Disso discorda Alice.
Ainda espera que as pessoas não estejam alheias ao fato de serem tão próximas em interesses e que ao menos alguém possa reconhecer o valor dessa semelhança, e finalmente, suplantar sua descrença tentando uma efetivação de um tatear com probabilidade de êxito merecido posto que buscado.

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