julho 21, 2009

EU NÃO COSTUMO ESQUECER UM ROSTO... 19.07.09



... Mas no seu caso, vou abrir uma exceção... Foi pensando em esquecer que Alice acabava de chegar em casa priorizando as tarefas que se impôs. Na sequência, a tarefa é rever mais algumas vezes aquele filme monótono em inglês, até se encher totalmente dele; até que ele se impregne todo em seus ouvidos ávidos de tanto entender e emendar palavras e pronúncias.

Como pensara em abrir exceção, e como os exercícios da manhã aumentam a cada dia num prodigioso efeito muscular nunca antes obtido, pensa ela num lapso de segundo, que deveria também impor coordenação aos pensamentos, ultimamente um tanto alheios a ela.
Para treinar especificidades, que venham estas, pois, com seus regimentos e suas indumentárias previsíveis para os momentos de ordenação mental. Nessas horas, vale qualquer efeito dinâmico para pulsar as idéias.
Lidando com idéias, já se acostumou com os lapsos de tempo que não pode deixar escapar. De tudo que Alice tem como qualidadade, a mais cristalina é a de parar para ouvir e aprender com as pessoas.
Então, depois de tentar por quase um ano com a nova amiga que falava falava falava sem parar, ela finalmente, deu-se por vencida depois do último domingo, quando mais uma vez sentara e escutara a amiga na constante monofonia que invade sistematicamente os neurônios, espanta a clientela e até os amigos, sem ao menos se dar conta do que faz.
Mas hoje, o lapso pelo qual cruzara incitava para especificidades. Então, de conformidade com ele, entrou na garagem utilizando o controle remoto porque de outra forma não conseguiria chegar.
Demais de tudo chegou. Estava em casa. Fechou a porta do carro no escuro, como se não pudesse enxergar. E não enchergava mesmo. Com a facilidade assumida que tem Alice por aprender até mesmo com os lapsos, imediatamente deixa pulular seu instinto que avisa para um treinamento dissonante, tal qual a sua forma mais abrangente, ainda que desgastante esta forma de aprender.
Com o auxílio do tato consegue abrir a porta. Entra sem acender a luz. Caminha por sobre a escada e vai até o quarto guardar a roupa e o sapato que costuma tirar ao entrar em casa (um mix das teorias orientais com as indianas, por vezes gerando conflitos).
Troca de roupa, executa todos os gestos do modo como de costume. Desce até a cozinha e vai tomar água. É o ápice da especificidade ora abordada. Abre a torneira e deixa o dedo dentro da caneca para sentir o nível da água. Mata a sede, matando juntamente aquele desejo que até há pouco insistia em tomar espaço no seu ego.
Ao mesmo tempo em que se sente extenuada, envolta por uma realidade que não lhe pertence, Alice traveste-se de um momento como pegasse emprestado de alguém; e nem imagina de quem. Mas, revestida que se faz de dificuldades outras que não são as suas, ao retornar a estas, costuma vê-las menores, “inofuscantes”, nem tão inebriantes quanto das últimas investidas.
Tem ela por bem, que essa prática vem-lhe como colírio depois de mais um dia de trabalho, sobretudo quando cai a noite e seus músculos respondem presente um a um, sem nem ao menos tê-los solocitados para qualquer fim.
Assim, como não costumasse esquecer um rosto, apesar de ser péssima para nomes, abre agora uma exceção; desta feita para tudo que sobremaneira joga deliberadamente dentro do seu cérebro, julgando-o incomensurável como já descobriu que é; porém, sem a menor parcimônia quando o assunto é sobrecarregá-lo. Talvez tentasse chegar ao infinito matemático, cósmico, analítico, sintético. Em não conseguindo, exercita-se buscando abrir uma exceção.

Marcadores:

julho 16, 2009

MINHA ORELHA DIREITA – 16.07.09



É ela quem me avisa já bem tarde que o cansaço chegou. Quando começa a doer não suportando mais os óculos, é hora de parar. Ontem precisei de Rimbaud. O sol se diluía todo na minha taça de vinho tinto e explodia em mil raios dentro do prato de carne com legumes sob o sol.
E minha orelha direita, que ainda não se reconstituíra do dia anterior, portanto, doída pelas longas, intermináveis, focalizantes horas de leituras, leituras e mais leituras, de números, de nomes, de causas e tudo mais que o dia de ontem incitou, além do computador, com uma dose a mais de raios catódicos que por conseguinte, não são solares nem fazem o bem destes.
Perguntei ao meu professor outro dia porque estão demorando tanto para homogeneizar os monitores e demais “hardwares” com o sol, (relembrando as aulas de informática onde eu inventava uma história para Edisac e Eniac – os maiores computadores do planeta).
Ele concordou sobre a imediata aplicação destas idéias, até porque confessou-me secretamente que coloca seu “notebook” ao sol, cobrindo com um pano, porquanto este ainda não se fez capaz de absorver vitaminas.
Mas, ao precisar do Rimbaud, a internet informou o preço, apesar de eu pedir acessos gratuitos. Ela não é burra se o assunto é fazer comércio. Sabe exatamente como cobrar. Até parece dotada de algum neurônio que teria escapulido de um economista distraído! Será que os “softwares” já se sofisticaram a este ponto e guardam secretamente em algum ponto da Nasa, seus chips sensoriais capazes de raciocínio próprio, talvez até de sentimentos, tudo ali onde pensam que os “crackers” não podem penetrar?
Depois disto tenho pensado no mundo imaginário daquela personagem que vive enganadamente numa bolha, pensando que aquilo é o mundo todo. Não estariámos também numa bolha? Foi esta a última questão debatida entre mim e meu professor de inglês antes das férias.
Mais um motivo para ler Rimbaud. É que meus óculos ganham mais vida própria a cada dia, fato já pressentido pela minha orelha direita, por vezes tentando sem sucesso, um pacto de silêncio entre eles dois.
Depois de pensar na teoria da ilusão sobre o mundo em que vivemos, apercebo-me agora de uma possibilidade de meus óculos estarem tentando mostrar a mim o mundo e as pessoas como elas são. Por isso, quando em dado momento é melhor não vê-las, eu tenho as lentes momentaneamente embassadas, com dor na orelha de forma a não ver nem ouvir certos fatos.
Aí, penso na minha evolução adquirida a custa de constante esforço mental, onde busco corrigir maus pensamentos, deduções precipitadas, graças à ciência que tento portar sobre a força real das palavras, até mesmo aquelas não ditas, porém, pensadas.
Assim, depois de subestimar meus óculos, não me tendo com Rimbaud para entender este breve desentendimento entre óculos e orelha, e adorando a sua Bruxelas onde sei que em breve vamos estar novamente, eu, derretida e esparramada sobre alguma das estátuas de suas praças, meus óculos, com poderes de buscar a literatura que nos alimentará, e minha orelha direita que por certo se fará aberta em fone, nada perdendo, nem mesmo o monitor do notebook aberto sob o sol, criando fantasias para quantos delas quiserem participar; dentro ou fora da bolha que o seu mundo possa ser.

Marcadores:

julho 06, 2009

CUIDANDO DO EGO - 06.07.09


Transitar entre o alter ego, o id e superego é tarefa a qual Alice costuma ter livre acesso sem maiores problemas. No entanto, por observar o ego das pessoas e suas necessidades de alimentá-lo ininterruptamente, tem certo temor ao cuidar do seu.
Como comandos da personalidade, e por fugir certas vezes ao nosso controle, sua falta é tão perniciosa quanto seu excesso. Mas, sobretudo o excesso é ainda pior. Rouba-nos a realidade fazendo de nós criaturas aquém do nosso espaço geográfico.
Alice pressente a proximidade do dia em que haverá de misturar-se em meio a tudo isto, requerendo portanto, muita, muitíssima habilidade para conviver com esta parafernália mental.
Acredita na sua atenção dedicada para não se ater em demasia com o ego, porém, está ciente das artimanhas que este costuma lançar sobre aqueles que ilusoriamente se entregam a este prazer pensando estarem a salvo das chamadas que o inconsciente emite, as quais nem sempre capitamos.
Então, Alice pensa em buscar na enciclopédia, na internet, nos alimentos, na meditação, seja lá de qual forma for, uma maneira de estar a sós com tudo isto sem se afetar de modo a perder o foco da realidade.
É ela viciada em realidade, de tal forma que não se desvencilia dela nem mesmo nos seus momentos de criação, de inspiração, mas, acredita que para todo barramento de invasões existe uma porta secreta por onde penetrar; se nem mesmo a informática assim exata, previsível, insuscetível de momentos a ser movida por inspiração, nem mesmo ela escapa das invasões de “rackers”, por que então Alice escaparia incólume desta situação nova por que deverá ser submetida?
Ela não tem todas as respostas. Apenas tem como certeza o fato de estar com a atenção voltada para esta possibilidade que espera transpor de forma a não interferir no seu ego por ora quase apaziguado, domesticado, preparado para sobreviver em meio aos falsos momentos de glória. E se não forem assim tão falsos, que venham com uma força capaz de ser adminstrada sem esquecer da sua efemeridade.
Espera mais, que seus exercícios de preparação para tais circunstâncias os quais lhe têm cobrado certo preço aviltante em tempo, que ao menos ao final, possam eles garantir um sucesso ao lidar com seres quase personificados, que nos atingem de forma tão sutil e imperceptível, levando-nos a uma ignorância estampada em nossa cara e em nossa fala, obtendo ao final um percentual de 50% de seres achando que são Deus e o restante deles tendo certeza de sê-lo.
Assim, quando pensa na consolidação de anos de trabalho que fatalmente terá por bem a convivência com ícones tão perversos, tem Alice que lutar para não fugir de tais perigos, fazendo-se pronta para enfrentá-los no mesmo tempo em que também se prepara para perder, pois, não ignora nem subestima a capacidade absurda de envolvimento que tais “seres invisíveis” são capazes quando tantam uma mente que desponta para qualquer fato novo.
Por fim, não querendo mais fugir de tais investidas que pressente aproximarem, entrega-se sem temor maior do que posssa suportar nem mesmo do seu velho conhecido medo que não possa conviver; apenas espera pela hora de colher os frutos, já que os têm plantados, sendo portanto, inevitável tal colheita. E à espreita de tudo por enfrentar, pensa que um treinamento de box talvez pudesse alertar neurônios mais que avisados, porém, nunca de forma suficiente para garantir total segurança.Vamos lá, acaso saberiam informar se nesta cidade existe alguém treinando box? Gostaria de conhecê-lo (a)..

Marcadores: