novembro 24, 2013

UM LUGAR PARA CABER-24/11/13



Ela olhou a volta e uma vez mais percebeu não caber ali. Nem nos lugares convencionais onde cabem as pessoas e suas funções. Ela não se amoldava um tanto por ter vontades complexas, outro tanto por buscar por essas vontades.
Assim se passavam os dias, quando percebera que existia no mundo outras pessoas iguais a ela; desajeitadas, irrequietas, que pensam tudo poder não se detendo ante as dificuldades.
Mas, ainda assim, no seu contexto ela não cabia. Gostava de compartilhar, porém, com a exata parcimônia que deve haver entre colegas, com divisão de responsabilidade.
Então pensou que o melhor mesmo seria ser artista, já que assim encontraria justificativa para toda a inquietação criativa não encontrada nos departamentos e nos cursinhos on-line pelos quais passou.
Pensando num lugar que lhe coubesse sem apertar, depois de ser questionada acerca do que julgam ser sua chatice, implicância ou outros adjetivos péssimos, ela preferiu não discutir, fingir-se de morta, burra, incapaz de compreender o julgamento que os outros lhe faziam.
Hoje, não se apertando em qualquer espaço, buscando a conveniência e oportunidade que aprendeu não se aplicar apenas ao serviço público, aplica-o no seu cotidiano como que satisfazendo sua falta de espaço para falar aberta e educadamente acerca de bons modos, educação, valores, cordialidade com colegas e outras características que atualmente são preteridos sem qualquer cuidado com o seu semelhante.
E disfarçando tudo isto numa mistura de aprendizado e de dor, segue se levando, e a todos quantos lhe queiram bem ou nem tanto, de forma a aceitar seu espaço apertado no qual tenta amoldar-se bem mais do que o previsto.

novembro 16, 2013

ELES DOIS-16/11/13

ELES DOIS- 16/11/13

Enquanto esperava o seu monitor se abrir, tal qual o espelho mágico da branca de neve, lento que se fez, ela sentia seu corpo quente após o banho de sol, bem diferente das nádegas e barriga sempre frias.
E agora que o tempo a fez mais velha, pensa com sinceridade mais sarcástica que a do “espelho, espelho meu” sobre sua união que não deu certo. Um porque imediato lhe vem em resposta, o fato de terem sido um casal muito igual. Eram eles dois tão iguais que pareciam irmãos. Tinham a mesma ânsia de viver tudo e muito rápido.
Faziam as coisas de tal forma que parecia ser urgente, inevitável, tanto quanto o progresso que pretendiam. E foram bem nos anos de mais vitalidade. Entretanto, eram alvo de olhares familiares, da rua, do trabalho deles, em todos os lugares por onde transitavam.
Por hoje, aprenderam que a energia exposta na vida assim de graça, incomoda muita gente. Levaram longos e árduos anos de aprendizagem até descobrirem que tudo poderia ter sido diferente, se suas inteligências não fossem expostas como foram.
Isto é profético ao longo da história, com inúmeros exemplos de pessoas que arrebanharam seguidores, moveram o mundo e depois veio-lhes a sucumbência (que não é a advocatícia).
Eles dois, hoje separados, cada qual buscando ao seu modo, segundo uma vigiada disposição, de sorte a não despertar curiosidade em familiares, amigos; enfim, a forma encontrada de vida por pessoas com verves afloradas que não encontram espaço para produzir tudo quanto são capazes, apenas porque podem incomodar, chamar a atenção e, de repente, verem seus mais formidáveis projetos ridicularizados por conveniência e oportunidade alheia, sempre a postos para tais investidas.
Retornando à pergunta ante o teclado lento e o corpo queimado pelo sol de quase mais um verão que se soma a tantos outros, a resposta que a tudo acalma é de que irão necessitar outras vidas e novas oportunidades de concretização do que lhes fora abruptamente interrompido. Eles aprenderam a esperar por uma melhor evolução do seu redor. E esta virá.


novembro 10, 2013

PENSANDO SER MATA HARI - 10/11/13



Não diria que brinca porque leva a sério a história de ser espiã. Elegeu o seu grupo de “amigas” no qual não se sente inserida, tampouco se vê acompanhada destas, já que difere das demais em preferencia de assuntos.
Tem preferencialmente uma tendência a falar e conversar apenas sobre doenças e fatos ruins. Sabe sempre quem morreu e quem é a última pessoa com câncer na cidade, motivo pelo qual não encontra muitas amigas para ouvi-la.
Ultimamente, tem se sentido ameaçada e promete gravar todas as ofensas e perseguições que tem passado, ao estilo Mata Hari. Vale lembrar que foi esta uma dançarina holandesa, filha de um rajá com uma indiana, que através das danças sagradas indianas teve abertos inúmeros “music-halls” da Europa, saindo da fama para ser transformada em espiã do Reich, sendo depois executada na França, amarrada a um poste, tendo como amparo apenas a companhia de uma freira a quem sorrira em despedida.
Somente uma agravante não se encaixa em toda a história, ou talvez venha em mensagem subliminar que nem mesmo a amiga se dera conta, mas pratica por não querer de fato ser agredida e ter as tais gravações: é que todos sabem do tal gravador e muitas saem de perto mudas e caladas, para não terem suas vozes ali registradas.
Se de fato o tal gravador existe ou se é um seu blefe, isto ninguém comprova. Entretanto, pelo sim e pelo não, ao menos uma coisa a espiã conseguiu: sua paz e o direito de ir e vir como bem entender, embora não seja o caminho mais diplomático de conseguir um direito a todas do grupo.
Como lição, resta a importância de saber tratar bem as pessoas, sejam amigas ocasionais, funcionários, sabendo aplicar críticas sem ofender, ou, não conseguindo a exata proporção para tal, melhor mesmo é calar-se, já que o tempo se encarrega magistralmente de todo o resto.