UM LUGAR PARA CABER-24/11/13
Ela olhou a volta e uma vez mais percebeu não caber ali. Nem nos lugares convencionais onde cabem as pessoas e suas funções. Ela não se amoldava um tanto por ter vontades complexas, outro tanto por buscar por essas vontades.
Assim se passavam os dias, quando percebera que existia no mundo outras pessoas iguais a ela; desajeitadas, irrequietas, que pensam tudo poder não se detendo ante as dificuldades.
Mas, ainda assim, no seu contexto ela não cabia. Gostava de compartilhar, porém, com a exata parcimônia que deve haver entre colegas, com divisão de responsabilidade.
Então pensou que o melhor mesmo seria ser artista, já que assim encontraria justificativa para toda a inquietação criativa não encontrada nos departamentos e nos cursinhos on-line pelos quais passou.
Pensando num lugar que lhe coubesse sem apertar, depois de ser questionada acerca do que julgam ser sua chatice, implicância ou outros adjetivos péssimos, ela preferiu não discutir, fingir-se de morta, burra, incapaz de compreender o julgamento que os outros lhe faziam.
Hoje, não se apertando em qualquer espaço, buscando a conveniência e oportunidade que aprendeu não se aplicar apenas ao serviço público, aplica-o no seu cotidiano como que satisfazendo sua falta de espaço para falar aberta e educadamente acerca de bons modos, educação, valores, cordialidade com colegas e outras características que atualmente são preteridos sem qualquer cuidado com o seu semelhante.
E disfarçando tudo isto numa mistura de aprendizado e de dor, segue se levando, e a todos quantos lhe queiram bem ou nem tanto, de forma a aceitar seu espaço apertado no qual tenta amoldar-se bem mais do que o previsto.
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