agosto 29, 2010

MEU FETICHE – 29.08.10

Fetiches são assim como as expectativas: raramente são realizáveis. Uma expectativa é sempre o adiamento dos nossos melhores desejos para quando você certamente não desejá-los tanto quanto de início. É assim nas ciências humanas quando aprendemos que nem mesmo um cheque é direito, mas, promessa, ou expectativa deste direito até ser sacado.

Minha expectativa ao assistir uma corrida de fórmula I é ver o safety car entrar em cena. Quando ele entra na pista tudo fica diferente. Não sei exatamente se é por impor outro ritmo à corrida, ou se pela sua função de ser “safety”, salvador daquilo que estaria perdido.
Só sei que se a mim fosse dada a oportunidade de conhecer um carro de corridas, antes eu pediria para conhecer o “safety car” e seu motorista. Somando-se a isto o fato de adorar carros de corrida.
Ainda assim, não cultuo carros, belezas motorizadas, tão pouco me lembro de ter querido um carro igual ao de alguém que conhecesse. Pensando tranquilamente sobre o assunto, ainda penso que o melhor é ter um carro mais velho e circular sem as preocupações que isto adviria por consequência.
Igualmente não invejo profissões e cargos; penso que todos eles são consequência natural de objetivos previamente determinados. Entretanto, por ser fetiche tenho para mim que o trabalho daqueles repórteres de programas sobre autos, a mim daria prazer especial fazê-lo; seria como receber para fazer o que mais se gosta nesta vida.
Não mantenho atração pelo destaque ou pela imponência que muitos buscam confirmar dentro de um carro novo, reluzente, resplandescente, o que aliás, não entendo muito bem por caracterizar-se um carro apenas pelo seu “design” e não pela máquina que vem a ser.
Assim, fazendo ginástica com movimentos bem mais lentos que eu desejaria, enquanto observo as máquinas demonstrando seu desempenho, sou brindada com duas entradas do “safety car”, versão 2010 na pista, com sua característica “impávido colosso”, ainda que não produzido no Brasil. Este carro, guiado pelo alemão Bernd Maylander, de 38 anos, durante toda a temporada, é o SLS AMG, sucessor do 300SL, que já foi usado por Michael Schumacher em comercial na Europa recentemente. Parece ter sido desenhado para voar, bem mais do que as próprias máquinas da fórmula I, ao ter suas portas abertas para cima.
De resto, continuar vislumbrando a possibilidade dessas rápidas e esporádicas aparições deve se constituir em quesito aliado da dificuldade, este substantivo que deveria denotar defeito, sendo, porém, classificado como qualidade. Em sendo assim, a tudo dá sabor especial de descoberta, de curiosidade acerca do que não é muito mostrado, falado ou divulgado para nós outros que assistimos passivamente a esses momentos de fetiche real por que passam os corredores e outros expectadores ante a presença do “safety car”.

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agosto 22, 2010

A CAPELLA SISTINA – 22.08.10


Entrar na Capela Sistina, cujo nome é homenagem ao Papa Sisto IV, é adentrar no mundo da arte, situada no palácio apostólico, residência do Papa, na cidade do Vaticano. É deparar com a dedicação em favor dos afrescos que tomam conta de todo o teto e das paredes da capela. É uma obra com mil faces inspirada em Salomão assinados por Michelangelo, Raphael, Bernini e Sandro Botticelli.
A vida de Moisés e de Cristo com seus ancestrais estão ali retratados. É nesta capela que se realiza o conclave para a escolha do novo Papa. É também um lugar onde percebemos resquícios das presenças dos artistas que por ali deixaram suas marcas.
Para visitar a Capela Sistina, além da disposição para não ser atropelado pelos curiosos que não querem perder nada, não podendo fotografar, exceto por câmaras mais afoitas e de clics rápidos tanto quanto não podem os olhos dos vigilantes captarem.
Então, num misto de arte e de cuidado dos guardiães da casa, a diversão dos curiosos passa a ser a de driblar os seguranças, conseguindo num piscar de olhos, a mais bela foto das obras de arte por séculos conservadas do desgaste e da corrosão.
Ao sentar e sentir dor no pescoço de tanto buscar detalhes comuns nos afrescos, buscando comparações, essas atitudes praticadas pelos apreciadores da arte “in oil”, curiosamente encontramos paz e tranquilidade, apesar de todo o barulho no lugar, a todo instante contido pela vigilância incansável e sem êxito.
É assim com o que consideram patrimônio público da humanidade. Todos querem ver, tocar, cheirar. Só não o fazem devido às restrições. Porém, para aqueles que observarem além das tintas e texturas, haverão que deparar com um sossego incomum, atípico ao lugar visitado e bem pago para tal, portanto, desencadeando nos visitantes pressupostos de poderem burlar a segurança da casa.
Seria cômico se não fosse trágico, e seria brasileiro se não fosse internacional. Mas, é no entanto, um comportamento que não rotula apenas o Brasil, mas povos de qualquer lugar do planeta, quando o assunto é pagamento para o exercício do direito da visitação. Todos os povos se fazem símiles no que se refere a direito adquirido.
Ainda assim, a Capela Sistina sobrepõe-se a tudo o mais e se mantém acima das nossas cabeças, intacta, colorida, enviando a sua mensagem que é bíblica para alguns e artística para outros. Sem dúvida, uma oportunidade íumpar de estar inserido dentro da arte. Vale a visita pelo seu peso em euro.

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agosto 15, 2010

O MÚSICO E SEU TROMPETE – 15.08.10

Trompete é a sua especialização. Formou-se em música, dedica-se à música e toda a sua vida é arregimentada ao redor da música. Não por acaso é assim. Visitando sua família tive oportunidade de observar o imenso acervo compilado em livros por toda uma vida.
É uma casa de músicos, artistas de TV e teatro e são, por conseguinte, dotados de calorosa recepção, tranqüilos e gente da melhor qualidade para se visitar, pois, sempre têm tempo para tudo. Parece que suas vidas giram em torno de outro relógio, que não passa pela precisão suíça nem pelo big bang, mas, passa sim, por seus relógios biológicos amplamente respeitados sendo na verdade, os ditadores do ritmo da família.
É este encantamento que naturalmente provocam que faz arrebanhar em torno da casa um movimento de pessoas constante. Não é diferente com o nosso trompetista. Ainda outro dia tentávamos relacionar um exemplo que fosse de alguém fazendo apenas o que gosta e tenta absorver disto o seu sustento próprio de forma a sentir-se satisfeito com isto. Este músico profissional foi nosso único exemplo.
Ele é não só profundo conhecedor de música, e trompete, e jazz, e blues e qualquer ritmo que surja por aí não é dele desconhecido. Sua educação musical transpôs-se para o nível profissional. E ele sobrevive da música, não tendo outra fonte de renda. É feliz com sua vocação muito bem resolvida, já que não se imagina fazendo outra coisa na vida.
Diferentemente, nós outros que seguimos nos perguntando como exatamente fomos parar nos nossos empregos e qual critério temos de avaliação da realização ou ausência dela. Não temos resposta. Se perguntarem a qualquer pessoa na rua sobre o que ela faz, se é realmente o que queria estar fazendo, a grande maioria em sinceridade dirá que não.
Quando encontramos alguém fazendo o que realmente desenvolveu aptidão para estar fazendo com prazer, chame a isto raridade. Alguns são médicos por vocação, outros por escolha da profissão com melhor chance de sucesso. Há inda os que vão parar em diferentes órgãos por aprovação em concursos que nem pensaram direito para fazer, a não ser na sobrevivência e na implicação no seu futuro. Esta é a situação da grande maioria de profissionais.
Deparar com alguém tranqüilo quanto a sua escolha, tendo nela a sua melhor opção de vida, posicionado com a certeza de que será sua escolha a única responsável pelo seu sucesso, seguindo seus dons, aperfeiçoando talentos sem cobrança, sem dúvidas, sem medo, isto realmente impressiona os incautos acostumados com pão e café na mesa todo santo dia.
E quando ele toca seu trompete com uma leveza incomparável, já sendo apontado como opção segura para todas as bandas que prezarem por música instrumental de qualidade nem se dando conta por certo, de que poderá ser famoso, requisitado, bem pago. É óbvio que também busca isto de forma consciente do seu tempo de trabalho e dedicação. E o mundo para quando o som do seu trompete espalha no ar a sua certeza suprema e incontestável de que está ficando cada vez melhor e conseguirá chegar onde pensa e que por modéstia aguçada, esconde sabiamente de todos.
Foi quando nos perguntamos o que ele deve comer todos os dias para ter tanta segurança sobre o que faz como sendo o caminho certo, acertável, acertado exatamente no alvo da sua sensibilidade: seria o pó de café que mói diariamente no moedor que comprou pela internet para fazer café quase expresso? Ou quem sabe seria o efeito do vinho de maçã tradicional do seu país que encorpa sucos e soda de limão?
Por outro lado andei pesquisando sobre os efeitos das saladas de batata com várias texturas e sabores, do picante ao moderado e muita, muita, muita salada, com vasilhas imensas. Não sei bem, mas parece que a simplicidade da busca é característica mais leve, suave, moderada, bem delimitada em certos seres especiais. Neste contexto, insiro sem sombra de dúvidas o trompetista profissional que responde solene ao que quer ser: Trompetista, é claro!

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