agosto 15, 2010

O MÚSICO E SEU TROMPETE – 15.08.10

Trompete é a sua especialização. Formou-se em música, dedica-se à música e toda a sua vida é arregimentada ao redor da música. Não por acaso é assim. Visitando sua família tive oportunidade de observar o imenso acervo compilado em livros por toda uma vida.
É uma casa de músicos, artistas de TV e teatro e são, por conseguinte, dotados de calorosa recepção, tranqüilos e gente da melhor qualidade para se visitar, pois, sempre têm tempo para tudo. Parece que suas vidas giram em torno de outro relógio, que não passa pela precisão suíça nem pelo big bang, mas, passa sim, por seus relógios biológicos amplamente respeitados sendo na verdade, os ditadores do ritmo da família.
É este encantamento que naturalmente provocam que faz arrebanhar em torno da casa um movimento de pessoas constante. Não é diferente com o nosso trompetista. Ainda outro dia tentávamos relacionar um exemplo que fosse de alguém fazendo apenas o que gosta e tenta absorver disto o seu sustento próprio de forma a sentir-se satisfeito com isto. Este músico profissional foi nosso único exemplo.
Ele é não só profundo conhecedor de música, e trompete, e jazz, e blues e qualquer ritmo que surja por aí não é dele desconhecido. Sua educação musical transpôs-se para o nível profissional. E ele sobrevive da música, não tendo outra fonte de renda. É feliz com sua vocação muito bem resolvida, já que não se imagina fazendo outra coisa na vida.
Diferentemente, nós outros que seguimos nos perguntando como exatamente fomos parar nos nossos empregos e qual critério temos de avaliação da realização ou ausência dela. Não temos resposta. Se perguntarem a qualquer pessoa na rua sobre o que ela faz, se é realmente o que queria estar fazendo, a grande maioria em sinceridade dirá que não.
Quando encontramos alguém fazendo o que realmente desenvolveu aptidão para estar fazendo com prazer, chame a isto raridade. Alguns são médicos por vocação, outros por escolha da profissão com melhor chance de sucesso. Há inda os que vão parar em diferentes órgãos por aprovação em concursos que nem pensaram direito para fazer, a não ser na sobrevivência e na implicação no seu futuro. Esta é a situação da grande maioria de profissionais.
Deparar com alguém tranqüilo quanto a sua escolha, tendo nela a sua melhor opção de vida, posicionado com a certeza de que será sua escolha a única responsável pelo seu sucesso, seguindo seus dons, aperfeiçoando talentos sem cobrança, sem dúvidas, sem medo, isto realmente impressiona os incautos acostumados com pão e café na mesa todo santo dia.
E quando ele toca seu trompete com uma leveza incomparável, já sendo apontado como opção segura para todas as bandas que prezarem por música instrumental de qualidade nem se dando conta por certo, de que poderá ser famoso, requisitado, bem pago. É óbvio que também busca isto de forma consciente do seu tempo de trabalho e dedicação. E o mundo para quando o som do seu trompete espalha no ar a sua certeza suprema e incontestável de que está ficando cada vez melhor e conseguirá chegar onde pensa e que por modéstia aguçada, esconde sabiamente de todos.
Foi quando nos perguntamos o que ele deve comer todos os dias para ter tanta segurança sobre o que faz como sendo o caminho certo, acertável, acertado exatamente no alvo da sua sensibilidade: seria o pó de café que mói diariamente no moedor que comprou pela internet para fazer café quase expresso? Ou quem sabe seria o efeito do vinho de maçã tradicional do seu país que encorpa sucos e soda de limão?
Por outro lado andei pesquisando sobre os efeitos das saladas de batata com várias texturas e sabores, do picante ao moderado e muita, muita, muita salada, com vasilhas imensas. Não sei bem, mas parece que a simplicidade da busca é característica mais leve, suave, moderada, bem delimitada em certos seres especiais. Neste contexto, insiro sem sombra de dúvidas o trompetista profissional que responde solene ao que quer ser: Trompetista, é claro!

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