fevereiro 22, 2010

O CARA – 20.02.10

Foi assim: ela precisava urgentemente dominar mais uma aprendizagem que vai acrescendo a sua interminável lista; aí passou por um, por dois e já está no terceiro professor que por ora não lhe ensina apenas, mas fornece descobertas inimagináveis acerca dos seus piores e mais escondidos defeitos.
Até se lembrou do Rubem Braga e sua crônica sobre aula de inglês, onde tinha que responder a mísera pergunta: “What is it?”, ao que lhe passavam infinitas improbabilidades, menos a única resposta que aliviaria o sofrimento de olhar para o objeto, que não era um elefante, um avião nem um javali, mas tão somente a sua carteira.
É assim que se sente nas aulas de inglês, cuja busca supera até mesmo qualquer “site” que pudesse acessar. Ela entendeu a sua deficiência responsável por levá-la a uma auto-classificação de “burra falando”. E realmente descobriu através de uma nova maneira de olhar-se que é assim mesmo.
Como encontrasse justificativa para todos os seus erros, com este não seria diferente, admitindo sua deficiência auditiva e de oralidade aos intermináveis anos escrevendo, escrevendo e escrevendo. Esqueceu-se como falar, falar e falar.
Agora, todo o trabalho do professor, previamente advertido desta dificuldade, consiste em trabalhar as questões orais. Simples assim, posto ter dado o mapa da mina, as ferramentas e os explosivos. E ainda sobra-lhe bom senso para perguntar se quer que ela mesma execute o trabalho ou se ele cuidará da explosão.
É insolente quando se reconhece, pois, admite ser sua própria estudante, visando conhecer-se a si mesma, sem interferência de terceiros e com a isonomia que nem a melhor PEC do governo seria capaz de se fazer aprovar.
Sabe que é sua melhor fiscal, nada lhe escapando aos olhos de sensor quando o assunto é sua própria personalidade, com ênfase aos dados despersonalizados admitidos e apaziguados há certo tempo. E se o assunto são seus defeitos, o rigor se multiplica.
Demais disso, percebeu na sua última aula que não sobraria espaço para suas saídas pela tangente; ou sabe ou não sabe; ou fala ou fala. Decerto acabara de encontrar o que sempre procurou e agora reconhece, não se preparara para encontrar.
Ele é o cara! Sabe cobrar, insiste e volta na mesma tecla. É pontual e chato tanto quanto ela que se vê reflexa num símil. Finalmente alguém sem piedade ao cobrar! Já demonstrou que não vai ter terror, pois sabe ensinar e acredita que uma vez ensinada, ela pode responder ao propósito principal, nunca saindo deste foco, sempre revolvendo as lembranças; sem parcimônia, comiseração ou insegurança quanto à perda da aluna.
E ela, depois de descobrir que existe alguém com propostas similares as suas, utilizando-se da sabedoria sem que isto se torne privilégio, antes transformando em ferramenta de trabalho da forma mais natural possível, reconhece de bom grado ter aportado no lugar certo, devendo por ora ali se instalar e descobrir tudo quanto lhe seja destinado.
Por ser reconhecedora de bons lugares e boas pessoas para estar, aproveita para incrementar sua lista mental que não desprestigia a todos os outros por que passou, assumindo apenas ter reconhecido ou talvez farejado, quesitos especiais inerentes a ambos de tal forma que se completam mesmo quando se confrontam incisivamente.
Ao final, ela sai com a certeza como não tivera antes: uma sensação do seu dinheiro bem gasto. Hoje fora como se tivesse aplicado na bolsa de valores, as ações tivessem caído, ela fizesse uma “opção” retirando a tempo para não ser vendida a preço menor, computando ao final, seus lucros líquidos, e trabalhados, e vigiados, e perseguidos sem trégua nem cansaço. Esta certeza lhe ocorrera depois da aula no sábado de carnaval, acredite se quiser...

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fevereiro 18, 2010

ONTEM FOI CARNAVAL – 18.02.10


Ontem foi carnaval. Em conferência sobre como as pessoas atualmente comemoram esta festa popular. Talvez falasse nesta hora a porção antropológica que insiste em permanecer como fosse uma segunda pele, uma descoberta por vir.
Então, por algum motivo inexplicável, porém, existente, sou impelida mais um ano a avaliar o comportamento do ser humano diante da festa onde se pode beber, vestir excentricidades sem ser taxado de louco, ridículo, démodé.
Incomodou-me captar a quantidade de quase-crianças tentando conseguir uma “bala”. Entretanto, alegrou-me o fato de saber que ainda existem humanos tentando difundir uma cultura popular, arrebanhando para a batucada aqueles mais dispostos a dominar um instrumento.
Merecem um respeito maior sobre os demais homens, aqueles que tocam bem um instrumento. Então, apesar de ver os meninos buscando balas que não deveriam estar em bocas recém formadas, ainda assim, terá valido pelo batuque capaz de volver uma imagem antiga, quase apagada, que já ia longe como guardada em papel amarelado pelo tempo guardado.
Do que restou daquele comportamento dos tempos em que o carnaval era festa onde até os desatentos podiam se misturar, visto que não se perdiam de tal forma avassaladora como agora, vejo restar aquela vontade de uns poucos se misturarem ao emaranhado, buscando um estranhamento menor.
Como ficasse difícil, mas, por fazer parte da proposta de quem pretende o entendimento do mundo atual e suas formas de diversões, é mister misturar-se, camuflar-se, analisar sem ser percebido, não subtrair qualquer aspecto negativo, a grande maioria, daqueles outros positivos, atualmente bem tímidos.
Tímidos, entretanto, presentes. E porque viver em consonância com nosso tempo ainda é proposta ousada, desperta em alguns um apetite diferente, como buscasse um gosto ainda não experimentado...
Vale a mistura, guardadas as proporções. Vê-se uma linha tênue entre as pessoas, seus estilos de vida, suas vindicações, dividindo-as em largados por si só, abandonados pelo seu mais próximo, achados que buscam solidificar-se, enfim, as mesmas buscas captadas noutros carnavais.
Não fosse pela virada que a própria vida impõe aos seres humanos, a solidez que nos afasta de sermos os eliminados da vida, segundo Darwin, todos seriam iguais, capazes de se mostrar bem sucedidos, os que sabem o comportamento ideal numa festa. Até lembrei o “personal”em relacionamentos que ensinava até mesmo a dançar sem ser notado nas festas – não se divirta, e não seja mal visto pelo todo.
Percebe-se, pois, que o carnaval ainda não morreu porque existem os péssimos alunos de etiquetas de comportamento. Eles não temem uma crítica, independem de elogios, dispensam um rol significativo de “amigos” e resolvem por si fazerem a sua própria festa.
E existem outros ainda mais ousados, que não temem críticas, não morreram, nem são doentes do pé; portanto, seguem atrás do trio elétrico, não imaginando nem de leve para que sirvam as massagens homeopáticas ao ego, tão indispensáveis à maioria, posto não ter localizado o seu próprio ego que para nada lhes serviria.
Por tão grande riqueza desses mesmos outros mais ousados, é que lhes sobra uma dedicação exibida quando ensinam a quantos queiram, como brilhar na bateria com diversão e alegria, sem incidir necessariamente no dinheiro que todo o resto da população ignóbil, pensa ser a razão da felicidade que contagia.

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