MINHA ORELHA DIREITA – 16.07.09
É ela quem me avisa já bem tarde que o cansaço chegou. Quando começa a doer não suportando mais os óculos, é hora de parar. Ontem precisei de Rimbaud. O sol se diluía todo na minha taça de vinho tinto e explodia em mil raios dentro do prato de carne com legumes sob o sol.
E minha orelha direita, que ainda não se reconstituíra do dia anterior, portanto, doída pelas longas, intermináveis, focalizantes horas de leituras, leituras e mais leituras, de números, de nomes, de causas e tudo mais que o dia de ontem incitou, além do computador, com uma dose a mais de raios catódicos que por conseguinte, não são solares nem fazem o bem destes.
Perguntei ao meu professor outro dia porque estão demorando tanto para homogeneizar os monitores e demais “hardwares” com o sol, (relembrando as aulas de informática onde eu inventava uma história para Edisac e Eniac – os maiores computadores do planeta).
Ele concordou sobre a imediata aplicação destas idéias, até porque confessou-me secretamente que coloca seu “notebook” ao sol, cobrindo com um pano, porquanto este ainda não se fez capaz de absorver vitaminas.
Mas, ao precisar do Rimbaud, a internet informou o preço, apesar de eu pedir acessos gratuitos. Ela não é burra se o assunto é fazer comércio. Sabe exatamente como cobrar. Até parece dotada de algum neurônio que teria escapulido de um economista distraído! Será que os “softwares” já se sofisticaram a este ponto e guardam secretamente em algum ponto da Nasa, seus chips sensoriais capazes de raciocínio próprio, talvez até de sentimentos, tudo ali onde pensam que os “crackers” não podem penetrar?
Depois disto tenho pensado no mundo imaginário daquela personagem que vive enganadamente numa bolha, pensando que aquilo é o mundo todo. Não estariámos também numa bolha? Foi esta a última questão debatida entre mim e meu professor de inglês antes das férias.
Mais um motivo para ler Rimbaud. É que meus óculos ganham mais vida própria a cada dia, fato já pressentido pela minha orelha direita, por vezes tentando sem sucesso, um pacto de silêncio entre eles dois.
Depois de pensar na teoria da ilusão sobre o mundo em que vivemos, apercebo-me agora de uma possibilidade de meus óculos estarem tentando mostrar a mim o mundo e as pessoas como elas são. Por isso, quando em dado momento é melhor não vê-las, eu tenho as lentes momentaneamente embassadas, com dor na orelha de forma a não ver nem ouvir certos fatos.
Aí, penso na minha evolução adquirida a custa de constante esforço mental, onde busco corrigir maus pensamentos, deduções precipitadas, graças à ciência que tento portar sobre a força real das palavras, até mesmo aquelas não ditas, porém, pensadas.
Assim, depois de subestimar meus óculos, não me tendo com Rimbaud para entender este breve desentendimento entre óculos e orelha, e adorando a sua Bruxelas onde sei que em breve vamos estar novamente, eu, derretida e esparramada sobre alguma das estátuas de suas praças, meus óculos, com poderes de buscar a literatura que nos alimentará, e minha orelha direita que por certo se fará aberta em fone, nada perdendo, nem mesmo o monitor do notebook aberto sob o sol, criando fantasias para quantos delas quiserem participar; dentro ou fora da bolha que o seu mundo possa ser.
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