janeiro 29, 2009

para uma agenda em 2010

“De súbito, a chuva prateada que inundava minha roupa de púrpura, começou a penetrar meus poros, invadindo meu cérebro, perfurando veias e neurônios. Agora eu era toda prata. Senti meus pés pesados até parar de andar transformando-me num robô. Incomodada com a imobilidade e o frio, ordenei ao coração ainda quente e vermelho que jorrasse sangue em tudo de volta. Paulatinamente fui recuperando minhas cores, e movimento, e respiração. Eu acabava de abandonar meu sonho de poder e recuperava minha liberdade de viver...”

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janeiro 28, 2009

SE EU FOSSE EMBORA PRA PASÁRGADA – 19.01.09


Se eu fosse embora pra Pasárgada amanhã, hoje eu já seria feliz. Porque as ruas desta cidade, sempre correndo sob meus pés e dobrando-se em esquinas, continuam me seguindo como espelhos refletindo uma presença temerosa, sempre pronta ao ataque mesmo quando não chove e o chão se “espelializa” por onde passo.

Se eu fosse embora pra Pasárgada amanhã, hoje eu já seria feliz. Porque as árvores desta cidade cujos galhos comunicam-se uns com outros, avisando e organizando um pelotão de vigília, enviam relatórios sistemáticos para um comando oculto impondo a sensação de vigília sobre toda minha movimentação diuturna por transito até mesmo em pensamento.
Se eu fosse embora pra Pasárgada amanhã, hoje eu já seria feliz. Porque aqui os pássaros terminaram de tecer uma rede de fios dourados por todo o céu, por onde trafegam fazendo escarcéus, mais ávidos a detectar a minha passagem do que cem câmeras que eu não pudesse driblar.

Se eu fosse embora pra Pasárgada amanhã, hoje eu já seria feliz. Porque certo pensamento em forma de sombra continua cerceando a minha proteção em todos os lugares pelos quais tento seguir, levando-me ao cúmulo de não querer mais nenhum lugar para ir; tamanho é o peso desta sombra que escurece confundindo minhas inspirações, as quais continuam fiéis com seus cantos em meus ouvidos travando um embate entre luz e sombra que somente agora me fosse permitido enxergar.
Se eu fosse embora pra Pasárgada amanhã, hoje eu já seria feliz. Porque agora materializei a tinta que cai intermitente sobre a minha cabeça, escorrida pela roupa, encharcando meus sapatos e inundando toda a minha imaginação agora entregue a uma imensa confusão, não sabendo mais o que fazer com as ideias borradas. Essas mesmas de minha total confiança que retumbam placidamente sem que ambas ela e eu, abandonemos todo este estado visto serem o produto do meu obstinado esforço, não se desvinculando de mim nem mesmo assim achincalhadas.
Se eu fosse embora pra Pasárgada amanhã, hoje eu já seria feliz. Porque essa cumplicidade com as ideias que nem mesmo tão contundente vigília conseguisse eliminar, sobreviveu a tudo porque tem a grata certeza da sua entrada em Pasárgada, sem nenhum aditivo para destacar na chegada, sem qualquer corretivo para eliminar os borrados ou nenhum visto no passaporte que facilitasse a permanência, porém com a persistência necessária para garantir o meu ingresso em Pasárgada por mim só.

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