DAQUI DO ALTO – 22.01.11
Olhando daqui do alto, a metade da porta aberta revela um pouco da cidade com suas casas e árvores ora sombreadas por uma nuvem que vem e brinca de sombrear apenas um certo ponto da paisagem. O restante permanece sob o comando do sol.
O vento também vem fazer algazarra, marcando presença nas folhas das árvores um pouco mais refrescadas. Daqui do meu raio de visão vejo tudo que descansa meus olhos. Só não vejo o rosto do amor. E se eu não vejo o amor que eu mais desejo, nada vale o que vejo, como dizia a poeta.
E o ver se faz tão profundo, que chego a esquecer a importância de observar tudo o mais que há pela frente; ainda que não seja o amor do resto da vida. Em vendo, vem um passarinho compartilhar comigo o soul que sai do computador.
Parece um intrometido na minha conversa monologuista. Penso que ao ganhar mais um amigo devo correr no supermercado e comprar alpiste para ele. Logo mais à tardinha faço isso, pois ele merece e se fez incansável no seu canto. Saio e ao retornar, lá estava ele. Mais um amigo para testar minha paciência.
Coloco comida e água aqui, ali, esparramo grãos que costumava comer e que não sei se são próprios para pássaros. Ele rodeia, rodeia e não come. Sigo meu teste de paciência. Como cativar novos amigos? Parece que todos quantos tento cativar exigem de mim certas posturas que não costumava ter até então.
Não sei exatamente o que esse passarinho preto quer de mim. Quase entra no quarto. Vai e volta sempre cantando. Quis chamar minha atenção e conseguiu. Estaria com fome? Com este são dois os amigos que me surgem no caminho os quais tento cativar nestas duas últimas semanas. Ambos igualmente difíceis. Os dois parecem escorregar quando tento uma aproximação maior. Seria um defeito deles? Ou uma invasão minha?
Mesmo assim, resolve comer um pouco da comida gratuita que coloco na varanda. E se vai. E eu fico aqui esperando a sua volta. Enquanto não volta, procuro pelo outro amigo, hoje sumido. Talvez resolvesse mesmo ir namorar.
De resto, parece que apenas o meu amigo passarinho é sozinho e tem tempo para ir e vir. Não demora mais que cinco minutos e retorna sempre com seu trinar, como que me procurando em algum canto da porta.
Já o meu amigo com quem troco confidências, ora sumido por motivo que somente quem tecla é capaz de compreender e não aceitar, leva-me a ter um rápido entendimento acerca deste gosto súbito pelo blues/soul da Amy Winehouse. São os tormentos que nos assolam quando não temos poderes nem direitos, mas apenas obrigações. Isto acaba se transformando em mais um dos exercícios de paciência.
Ao final, terei aprendido sobre a complexibilidade “offline” das pessoas que não necessitam da urgência de viver e conversar, transferindo esse momento para uma outra escolha. Chame a isto o efeito descartável que as coisas têm hoje. Muitos se esquecem que carne, ossos, pele e outros, ainda não foram classificados como descartáveis. Parece que não!
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