MOSTRANDO A CARA – 15.01.11
Existem dias onde a gente nem deveria ter saído de casa. Uma vez saído, voltar é a hora melhor do dia. Hoje quase atropelei um gato todo branco. Não por acaso o felino olhou-me com vontade de trucidar meu pescoço feliz por não estar ao seu alcance.
Senti de véspera a energia funesta daquele dia, um tanto devido aos compromissos que teria, outro tanto pela sensibilidade natural que roda e avisa sobre os momentos difíceis porvir. Assim, por ter resolvido mostrar a cara, mesmo me achando sem sal nem açúcar, e pensando não ser suficientemente capaz de provocar qualquer interesse de quem quer seja sobre essa pessoa insossa, inodora e só não incolor devido à generosidade do sol que me deu esse, esperando que não haverá de faltar.
Demais disso, cara mostrada, parecendo não ter agradado apesar do bronze marrom madeira, o que resta por ora é segurar a onda e aguentar os efeitos da invisibilidade com a qual convivo por agora.
Neste instante me resta entender a que se deve tanta invisibilidade. Tento a teoria de que a cara mostrada nua e sem rodeios não tivera o efeito de agradar intencionado. Pelo contrário, serviu de espanto, provocando choque a um incauto que esperava ver na tela uma cinquentinha mal-acabada, desatualizada da tecnologia “blue tooth” e das artimanhas da rede, essa que leva as pessoas a se encontrarem e falarem-se independentemente do idioma (coisas do tradutor disponibilizado).
Então, porque mostrar a cara exigisse coragem, resignação no caso de tudo mais dar errado, como por exemplo a cara não agradar, aí é hora de buscar alívio nos afazeres de antes de encontrar tempo para ficar à toa, conversando por horas, sem saber se colhe verdades ou mentiras, apesar de estar espalhando somente a verdade, nada mais que a verdade.
Mas, desagradada cá estou, sem saber a que se deve realmente tal invisibilidade. Teria eu falado demais, ou de menos? Não creio. Até porque não falo (no que sou burra), mas escrevo (no que sou boa dado à especialização diuturna).
Então, não teria teclado demais. Porém deveria ter advertido como na canção: “prepare seu coração, para as coisas que eu vou contar, eu venho lá do sertão, e posso não lhe agradar...” Agi inadvertidamente, colhi tempestade.
Resultado, uma rede desconectada, e eu aqui tentando tomar rumo nas tarefas que impinjo a mim mesma e que me salvam do convívio comigo em solidão bruta. E onde eu teria parado? Ah! Lembrei-me: foi nos dicionários que me esperam, super-povoando a mesa de livros em desordem tamanha, que não combina comigo, ficando ali como que jogados, abandonados momentaneamente.
Sendo um gesto momentâneo, tenho para mim que o meu retorno aos livros e dicionários terá um impulso promissor desta vez, o qual deverá render talvez, textos, contos ou qualquer coisa do gênero, como advirto aos meus conviveres sobre os riscos de se tornarem minhas personagens. Ainda bem que são anônimos, embora não sejam irreais.
Valendo-me de toda e qualquer situação para chamar a atenção da inspiração, vale até mesmo conversar com você sem ver seu rosto, deixando apenas o imaginário descrever. São riscos que o prazer consegue sufocar. Então, mostrada que estou, mostrando que tenho apenas dois olhos e uma boca, portanto qualificada terráquea, penso que deveria também ser aprovada no quesito amiga para conversa. Acredita que não fui aprovada!
Bom, ainda acredito que mostrar ou não mostrar a cara não deveria implicar em avanço da amizade. Mas esta é uma teoria que segunda amigas, é perigosa nos dias atuais. Além do mais, a mídia tem cuidado de advertir sobre quem está do outro lado da rede.
E perder tempo com conversa pessoalmente, isto já fora esquecido pelas pessoas de hoje em dia. Não existe mais tempo nem predisposição para se consolidar uma amizade. Então, o que me resta é aceitar a minha reprovação visual na rede e tentar novas formas de contato com terráqueos outros cuja aparência não seja o ponto principal da amizade. E foi-se o dia em que a autoajuda transformou-se em dia de “mea culpa”; fazer o quê? Parece que confirmei minha tese de não ter vindo no mundo a passeio. Vim mesmo para trabalhar. E nisto parece não estar inclusa a facilidade de fazer amigos nem de longe nem de perto.
Enfim, talvez eu não ficasse bem na foto, na conversa ou na intenção. De qualquer modo, a mim não parece tudo perdido. Já faz parte do meu plano iniciar uma pesquisa acerca do que esperam os internautas do seu interlocutor. Se um contato imediato com uma personalidade famosa, rica e interessante ou, está valendo também o contato com gente comum, do cotidiano, sem nenhum dom de atração que não seja o de uma boa conversa desinteressada de tudo o mais desta vida.
Marcadores: navegar é preciso...
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