janeiro 02, 2011

O AMOR VITUAL DE ALICE – 02.01.11

Foi casualmente catada na net; ou teria sido buscada? Bom, isto não vem ao caso, exceto pelo fato de que ali Alice encontrara sua razão de viver novamente.
A moça é mais que maior de idade e tem plena consciência dos perigos para os que se expõem na rede. Mas, Alice não é do tipo que perde tempo em “chat’s”, você sabe, as salas de bate-papo virtuais. Ela sempre achou isso tudo muito superficial porque as pessoas mentem o tempo todo.
Elas necessitam de viagens em outras personagens, só possível ali. Então, estava ela em sua casa (muito bem, vindo de trem de algum lugar), aí, de repente alguém tenta comunicação casual com ela.
Ela resolveu dar linha para esta pipa. Num primeiro momento falaram pouco porque ela estivera, talvez, um tanto deprimida, outro tanto descrente do interesse alheio sobre sua pessoa e mais, por estar numa fase de achar-se feia, mais do que nos dias normais e não conversara muito com o moço.
Necessita da net apenas para seu trabalho. Trabalha com computador desde que se sentira gente um pouco mais respeitada, apesar de não ter atingido o nível de respeitabilidade que possa, quem sabe fazê-la mais querida.
Não é que as conversas com o tal Pedro, como diz chamar-se, deu resultado que nem terapia conseguiria tão rápido. Sem falar que o preço que paga para acessar sua net é mais ou menos o preço da sessão de terapia. Mas uma só por mês não dá um resultado tão rápido. E a net, Alice utiliza para vários fins, inclusive de trabalho.
Então, estavam unidos o útil ao agradável, agradabilíssimo. Começaram a se falar e naquele final de semana do ano novo falaram longamente até acabar em discussão. Segundo Pedro aquilo não era briga nem discussão, apenas um debate.
Debate que acabou por levar o moço ao silêncio no dia seguinte, um domingo sem sol, bom para estar conversando na net. Só que ele não fizera questão de esconder seu gênio ruim.
A briga foi por causa de mais fotos de Alice na net e para ligar a câmera do computador para que ele a visse. O moço andava desconfiado de estar sendo enganado e Alice não ser nada do que estava mostrando.
De todos os defeitos de Alice, sem grande esforço Pedro iria descobrir a insegurança como sua marca registrada. Alice tentou esconder o mais que pudesse essa sua característica porque isto poderia ser a sua queda.
Queda porque ela estaria fatalmente nas mãos de Pedro que poderia manusear (caso se valha da esperteza) essa insegurança dela, transformando-se no homem que manda e desmanda.
Esse era o medo de Alice. Talvez ela merecesse manter este medo ao menos por mais algum tempo. E se colocaria em vigília para não ser feita de boba, para não alterar seus hábitos, sua rotina, não ser vigiada nem ameaçada por um estranho.
Esse era o medo de Alice. De ser usada, ter sua vida invadida por um estranho que depois pudesse desvendar-se mal, decepcionando-a como todos os homens que cruzaram sua vida.
Entretanto, antes que isso acontecesse, bem antes, seu interessado amigo virtual, que poderia vir a ser um futuro namorado, depois de uma discussão, ressurge no dia seguinte com ares de grande e abnegado amigo. Enalteceu a alegria por ser tão bem recebido pela nova amiga.
Depois de florezinhas, carinhas com olhos piscando, recadinhos de namorado, tudo voltava ao normal para os novos amigos virtuais.
Tudo como quando se conheciam, enquanto descobriam as mentiras e as verdades tecladas. Pedro retomou a frieza e a formalidade com Alice; não quis mais trocar doces carinhos virtuais com ela. E disse categórico que ela deveria pagar por sua arrogância.
De outra feita assumira-se arrogante também. De uma forma tal que não podia controlar. E o demonstrou para Alice exatamente como disse.
Mas Alice, que se imaginava vivendo uma linda história de amor, teve que reunir suas expectativas, jogar dentro da sacola, ignorar todos os elogios que recebera.
Tentava agora simplesmente aceitar-se arrogante, com uma noção mais íntima sobre como não lidar com os homens, como ser mais humilde ainda.
Também poderia ignorar tudo que lera, não se reconhecendo arrogante, deixar o moço falando sozinho e buscar outras formas de ser feliz, expressar seu carinho e gratidão em outros lugares, com outras pessoas.
Mas, não existe outros lugares, outras pessoas que tenham a cara e o cheiro virtual de evolução que Pedro naturalmente exalou diante de Alice.
Então, Alice recolheu sua dor diante da indiferença de Pedro, de forma que ninguém reconhecesse uma nova dor ainda maior em seu coração, por algo que nem começou e já se desmanchou.
Secretamente, por algumas semanas ainda, Alice estará conectando sua rede na esperança de que seu galanteador de alto nível resolva investir novamente nas conversas profundas, sinceras e esclarecedoras entre eles dois.

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