agosto 02, 2009

UMA SEMANA SEM GINÁSTICA – 02.08.09

Olho o vermelhão pouco abaixo do joelho, ínfimo e capaz de me tirar de circulação. Não posso malhar essa semana. Ainda assim, precisei socorrer alguém indo ao hospital arrastando-me, porém, consegui chegar. Recepcionista e enfermeiro pensaram ser eu a doente e ficaram surpresos ao ver que eu mancava escorando a doente.


Com minha natural tendência para esquecer fatos ruins, não me lembro de ter batido a perna em nenhum lugar. Mas, costumo pedir e meus pedidos não são rejeitados. Como não quisera mancar no dia seguinte ao ir para o trabalho, meditei para que meu joelho sarasse. E sarou. Ao amanhecer eu não mancava mais. Confirmei por dados mais que estatísticos que minha meditação tem produzido efeitos crescentes e assustadores. E nem fui à Índia ainda...


Como sinto uma supremacia ao safar-me do que incomoda, inclusive das dores e doenças, tenho questionado acerca desta consequência a qual não esperava chegar nem perto. E ao buscar saber sobre meu novo projeto, na incubadora, prestes a eclodir, tento um presságio com o “I Ching”. Não deu outra: a persistência no curso correto trará recompensas. Será trabalhoso (isso eu já sabia desde o começo), mas produzirá frutos...


Como não fizera ginástica esta semana, quantos centímetros eu teria perdido sem peitoral? Ou seriam milímetros? Em compensação, tenho expandido a massa encefálica através da leitura, que casualmente pela segunda vez consecutiva se resume a mais um livro parecido com o que ando escrevendo, sem, contudo, dedicar-me como deveria.


Estive com Aristóteles, Horácio e Longino, passando pelas suas percepções sobre a poética antiga, a tragédia, chegando ao sublime, aquele contentamento que produzimos no leitor quando este se identifica com o texto e pensa ter sido escrito para ele. Portanto, estive lidando com aprendizados sutis; aqueles que ninguém nos rouba, não somos impedidos de adquirir a não ser por nós mesmos e cuja genialidade é de propriedade intransferível, podendo perdurar para além da morte. Acaso sabe de outra coisa assim poderosa?


Como a tônica que restara era intensificar a capacidade laboral de pensar, no filme “O leitor”, revi um banho de referência da literatura clássica, além da sutileza com que chegou o autor e o diretor ao desfecho do julgamento de mulheres alemãs que participaram do movimento nazista. Uma obra de arte para ninguém questionar, exceto a crítica, que tem por ferramenta o falar mal quando poderia silenciar. Além da plástica artística das personagens e seus nus perfeitamente adequados ao contexto, nunca vi tanto cuidado com detalhes.


Depois, em uma semana sem ginástica muito há que ser aproveitado em favor da arte. Até ganhei a certeza de que o investimento em planilhas orçamentárias no excel garantem, sem dúvida, um caminho menos árduo entre contas, contas e mais contas. Um resquício matemático e estatístico que de vez em quando me sopra aos ouvidos a indicação do caminho para o progresso financeiro.


Ganhei mais tempo para todo o resto, perene de sustentação, já que perene pode ser reduzido àquilo que dura mais de dois anos. E o que dura mais de dois anos? Talvez um casamento, o convívio com filhos, um curso na faculdade, a produção, distribuição e venda de um livro, talvez os dias que me restam de vida.


Agora, preparo-me para mais uma temporada de buscas por encontrar o que disse a princípio, sobre quem anda atendendo aos meus pedidos e porque fazer tal agrado.


Hum, vejamos, tenho em mãos mais um livro de uma viajante que saiu exatamente em busca desta minha pergunta, casualmente trilhando os caminhos que tenho buscado, ocasionalmente tentando ser mais feliz estando ávida de comoção, ígnea de produção e não por acaso, estando num caminho calamitoso como todo ofício de bordar com letras a sensibilidade até no último instante não revelada. Assim é a arte!

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