abril 02, 2009

MINHA VONTADE DE LIMPEZA – 02/04/09



Hoje acordei com a energia suficiente para mover a lua, arrancar os anéis de saturno, ir e voltar ao polo norte e ainda trazer um pouco do gelo de lá antes que se derreta. Mas, por falta de concessão que viabilizasse tais anseios, fui até ali numa estradinha quase deserta e aliviei este estado aos 120 km/h fazendo queimar senão toda, apenas um pouco desta adrenalina. Então passou.

E mais, também perdi a vontade de cutucar a lua, sentando-me em seguida, tomando junto com água, um bom tranqüilizante natural. E foi-se embora toda a pressa carregada por longos anos a fio nos ombros senão calejados, ao menos bastante fortificados por suportar peso e correria.

Como restasse um pouco de adrenalina, e o dia chuvoso inspirasse casa, cama e sossego, é chegada a vez dos monitores, suas performances e, por conseguinte, muita limpeza no drive e por aí afora.

Retira-se o que não é preciso, acrescenta-se o que deve servir num futuro que pode até ser distante; é como organizar gaveta de documentos. Alguns não servem mais e outros, continuam ali, exatamente no mesmo lugar, igual a montanha que insiste em ficar ali parada (na canção de Calcanhoto).

Não sendo eu montanha, mas cultivando discretamente uma admiração por estas, acabei de desistir de uma espera por dias melhores longe daqui e saí em busca de dias melhores por aqui mesmo.

Queria ganhar um Santo Antônio. Não tendo ganhado, comprei-o. Ele fica ali, parado no aparador (igual à montanha que insiste em ficar ali parada, da canção que já citei). Pois ele fica ali com seu livro e uma criança em cima do livro. Duas coisas sem as quais eu não vivo muito tempo longe.

Já tentei um diálogo com ele, refiz meus atuais caminhos da espiritualidade onde ainda insisto que sou meu próprio mestre. Existem limitações que tento suplantar, e existem outros dias onde nada é preciso ser deixado para trás e vou seguindo nesta crença. Tenho para mim que aquilo que não me mata, fortalece-me.

É caminho dos mais difíceis, menos convencional, opcional, pouco difundido, com inúmeros itens que poderia continuar enumerando, enumerando e enumerando; é por isto que eu sigo; pela dificuldade que apresentam. Gosto de estar atrás de alguma coisa e de preferência, sem nada atrás de mim.

Enfim, voltando a minha faxina eletrônica, penso que vou precisar de um saco de lixo que acondicione bem este material tóxico de palavras que vão se amontoando em torno do meu raio de visão e que depois, simplesmente descarto. Onde essas palavras vão parar?

Espero que elas tenham uma destinação nobre, já que me foram de muita valia, tanta que responde atualmente por qualquer outra necessidade que eu tivesse de entender o mundo e as pessoas dentro dele.

Então, memoráveis letras que se arregimentam em ideias passadas, um dia ocupando espaço ora reduzido a um CD, por tão singular amizade, elejo-as agora respeitosamente, minhas amigas secretas, de total e absoluta confiança, como não se vê, ainda mais no universo feminino, ora perdendo espaço para o masculino, cuja melhor característica sempre fora a discrição e a ausência de comparação, hoje abandonadas por estes e aquelas.

E porque ontem mostramos certo respeito pelo nosso planeta, ficando quem quis e pôde, sem as benesses da energia elétrica por uma hora, eu pessoalmente que não me somei a este gesto simbólico por esquecimento, demonstro agora o meu respeito por aquilo que me mantém viva, qual seja, a utilização das palavras formando ideias, viagens, fugas, resoluções, reinvenções.
É chegado o descanso dessa leva de composições com as quais convivi pacificamente, apostando na nossa mútua fidelidade até quando puderem meus neurônios com elas montar o interessante jogo da expressão literária, essa mesma utilizada por Godard na sétima arte. Podemos nos servir dela, eu e você, gratuitamente, sem moderação nem efeito colateral, sem ou com maledicência, livre para nos ridicularizarmos, livre, livre, livremente como em nenhuma outra fonte se sentirá.

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