novembro 15, 2009

A ILUSÃO DE SER – 15.11.09

Mensurar o que de fato somos não é tarefa simples, sobretudo porque até o nosso próprio espelho nos prega peças, talvez com o intuito de proteção diante da imposição de perfeição que costumamos nos impingir.
Enquanto inauguro minha caneta de material reciclável, restando uma reclamação quanto ao seu tom pouco azul dificultando enxergar à noite, pergunto-me se a tinta azul para canetas estratosféricas também é atualmente objeto de extinção. Não me avisaram!
Mas, meu objetivo hoje fugiu à normalidade. Depois de longos e intermináveis anos sob a agressão humana e suas acepções e efeitos colaterais por minimizar, arranjei uma forma de não sair do esquema deixando-me chicotear pelas palavras, não menos do que os mesmos longos anos. E hoje, depois de todo esse trabalho em favor da falta de êxito, acabei por ter meu ego massageado, recoberto dos mesmos êxitos os quais tenho fugido e que pensava nunca se aproximarem de mim. Meu treino para isto foi “canônico”.
Tive certeza que da tal massagem do ego tenho medo; talvez até mais medo do que a massagem pessoal que aplico nos desprevenidos quanto ao seu efeito relaxante, não dando mais vontade de viver sem ela... dessa última não tenho medo, uma vez que devem temê-la os receptadores.
Assim, meu ego desacostumado desses confortos tanto quanto meu corpo que não recebe de volta o que aplica, avisa acendendo seu neon lilás que cautela faz bem e deve estar de prontidão para ser utilizada. E está!
Enquanto observo alunos, suas pesquisas e seus “notebooks” que não necessitam energia para funcionar, bem diferente do meu aguentando bem pouco tempo sem esta, repenso minha tarde de outra forma, com falas mais elaboradas, exploradas, o que por certo, traria um êxito maior ao meu trabalho.
Tento aquietar meu ego que se vê reflexo nos monitores em “display” de plasma, portanto, brilhando mais do que seria aconselhável. Como tenho avisos esporádicos de outras grandezas que não sei quais, recebo uma advertência de que as coisas estão no rumo que deveriam estar: nem mais nem menos.
Qualquer excesso seria pernicioso tanto quanto dar abertura ao ego para exercer suas funções cheias de efeitos colaterais difíceis de contornar. Mas ele é incisivo quando vê uma porta aberta. Transforma-se em água e “babal”, como dizia a minha avó e que meu “Aurélio” avisa ser uma tanga indígena – quem sabe me sentiria de tanga sozinha no deserto!
Sentida a necessidade de materializar um trabalho insólito realizado por longos anos, depois de materializado, o que deveria ter sido a concretização, está agora ameaçado de ser mais um chicote ao qual me submeto. Desta feita, com muito mais persuasão porque incide em valores há muito e muito buscados.
Tão buscada foi esta materialização, não encontra lugar de direito, podendo eventualmente alojar-se em qualquer cantinho, tentando se transformar num nada que tal trabalho não é.
E questionando ao final se isto é medo, seja da exposição, das críticas, do insucesso, ou pelo contrário, do sucesso, da busca pelo conteúdo e da popularidade do que é quase nada popular, pressinto mais coragem do que medo; por isto não paro.
Concluindo, admito ter-me apoderado de uma entrada aberta de forma tímida e extemporânea, dessas que somente com muita vivacidade se pode adentrar, sem saber que uma vez lá dentro, sempre lá dentro.
Dentro que me fiz, busco agora manter a criação que não sai de mim, não sai de mim, não sai, preparando-me, no entanto, para a hora “nietzchiniana”, quando concluirei serenamente que se não tivesse escrito nada do que consta até então, eu seria a mesma pessoa, com o mesmo peso e a mesma medida.
Chamo a isto, a busca teórica de empregar na prática o que ninguém pode fazer por mim, qual seja salvar-me do meu sucesso ou do meu fracasso, preparando-me para a ilusão ser, tanto mais perigosa do que a de não ser.

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