novembro 01, 2009

ENCONTRANDO O QUE PROCURAVA – 01/11/09


Ela se declarou cansada e sem êxito na vida. Sentia que a sua busca maior fugia do seu foco de visão toda vez que tentava alcançá-la. Havia muito êxito profissional, sucesso advindo da sua persistência em buscar concretização dos projetos, mas ainda assim, faltava alguma coisa mais.
Por ser a determinação sua melhor característica, com a qual estava sempre de bem e nunca contestara a supremacia desta qualidade em sua vida, andou buscando por longos anos por uma pessoa ideal para conviver de forma especial.
Traçou mais um projeto de como seria esse relacionamento, todo pautado na liberdade de ambas as partes, sem cobranças nem convenções como sempre delimitam com a ilusão de que assim as coisas fiquem seguras. Ela já sabe que não é assim!
Desesperou-se um sem número de vezes atrás de tal pessoa. Especulava sobre a vida dos conhecidos, dos estranhos, e como não conseguisse ninguém com o perfil de parceiro ideal para a viagem da sua vida, passou a pensar em buscar uma amiga.
E com igual tenacidade buscou incansavelmente por uma amiga que pudesse ter objetivos senão iguais, ao menos com alguma coisa em comum. E de todas que consultou declinou defeitos difíceis, que poderiam transformar uma viagem comum num “programa de índio”.
Não raras vezes traçou planos com algumas pessoas, que sempre tinham conhecidos nos lugares turísticos pelos quais a criatura focava suas preferências. Ao final, uma amiga com a mesma liberdade dela, com desprendimento material parecido, sofrendo de hipertensão, não se sentindo bem em qualquer clima e altitude, fez com que ela desistisse da busca.
Por último, conversava com as pessoas e percebia que muito poucas sabem ouvir ou se interessam pelas curiosidades mais banais da vida das pessoas mais simples, tampouco são educadas para estarem no mesmo quarto de hotel, por exemplo.
E se a pessoa roncar muito, e tiver que tomar remédios a toda hora, falar demais, ter muito ou pouco sono? Aí, ela percebeu que seria uma escolha criteriosa, envolvendo muito mais cuidados do que pensara de início.
Pensou em um amigo antigo, moreno alto (bonito e...) que sempre se mostra disponível na vida para bons aproveitamentos, parecendo nunca os conseguir, ou nunca estar satisfeito com a vida. Mas isto é problema dele, não dela! Ela sabe muito bem dar-se por satisfeita, necessitando de bem pouco para isto.
Mas, como todo homem mais bonito, este é esperto e gosta de usufruir do dinheiro que não é seu. Esta é sua principal determinação na vida – aproveitar de tudo que puder e do que não puder, aproveita a custa de outros que o permitam. Não ela!
Mais um descartado, fecha sua agenda mental para assuntos de busca dando-se por vencida. Como tudo mais nesta vida, quando cessa a busca ela aparece na nossa frente, assim materializada sem nenhuma advertência sobre efeitos colaterais.
Então resta localizado o homem que andava procurando para a tal viagem, que parece livre, tem adquirido sabedoria, fala sobre a cultura mundial, e conta finalmente sobre a sua última viagem, deixando escapar que pretende outras mais.
De posse de uns poucos dados observados, capazes de reacender nela a vontade de chegar ao Louvre e outros lugares por aí afora, podendo até mesmo ser no próprio Brasil, que conhece tão pouco, enfim, ei-lo encontrado.
Encontrado o que procurava, e com fácil localização já que costumam se ver com certa frequência, pensa uma estratégia de aproximação que não assuste ou provoque repulsão. Chame a isto, a parte crítica do projeto.
Ela, que já enumerou os dez passos para se tornar perigoso, pensa agora em enumerar os dez para se tornar atrativo, interessante, a companhia perfeita para uma viagem inesquecível; que contenha no pacote a cumplicidade a iniciar-se nas despesas, estendendo-se pelo companheirismo necessário ao forasteiro, podendo incidir finalmente, em uma amizade mais alegre, com a leveza de quem tem o mundo por descobrir, mais colorida, por que não?

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