setembro 09, 2009

ABRUPTA – 09.09.09


Fosse Alice chinesa e hoje seria um dia de auspícios energéticos de boa qualidade, dado à repetição numérica sincronizada nesta data. Mas ela não é. Em não sendo, luta, pois, por manter seus hábitos como fossem religiosos, já que esses não admitiram uma tendência repetitiva como nada na sua vida.
Tudo lhe parece extemporâneo, em ordem invertida de acontecimentos. E são. Primeiro estuda, depois trabalha; trabalha até encontrar uma aparente acomodação que não vem. Depois estuda de novo, e busca desta feita algo maior, além do aprender, algo por absorver.
Retira da pasta uma considerável tira amarela de papel que somada às anteriores até então, daria bem mais que um pergaminho de devoluções de livros à biblioteca da faculdade. Pensa em guardá-los e associa tal comportamento ao seu pai, que coleciona as passagens de até então. Perfazem sacolas que se somadas, dariam uma distância equivalente a cem voltas ao redor da terra.
Desiste então, por não crer que coleções façam bem, exceto a dos estilistas. Mas, relia ainda a pouco um trecho de Lispector, onde ela descrevia um inseto pousado na cama. Então, lembrou-se do gafanhoto que passou alguns dias em sua cozinha.
Foram sete dias mais ou menos. Aí, Alice recebeu visitas. E o gafanhoto continuava ali, na cozinha, perto do filtro de água. De vez em quando surpreendia Alice mudando de lugar. Mas, era bem estático. Parecido com Alice quando se senta para ler ou escrever ou estudar ou esquecer do mundo ou esquecer dela mesma.
Conviveram assim, ambos esquecidos deles mesmos. Avisara para as visitas sobre a presença do inseto e que ele estava ali já havia algum tempo e que não incomodaria ninguém.
Mas ele se incomodou. Arvorou-se. E Alice foi tentar minorar seu desconforto em meio a tanta gente, numa casa antes só deles dois. Entretanto, Alice esquecera-se da fragilidade insecta e impregnou força desnecessária para espantar o bicho até outro lugar tranqüilo da casa, o gramado do quintal.
E no dia seguinte fora comunicada por um dos hóspedes que o bichinho estava estirado, morto e duro no gramado, dado à força que Alice o espantara. E acabou-se a simbiose entre dois gravetos que pudessem talvez trocar verde, ou inamovibilidade, quem sabe, aderência nas mãos e pés, ou ainda, certo jeito abrupto, que por vezes espanta amigos, familiares, gente boa e gente ruim, mas que indubitavelmente, espanta os outros em geral, podendo até matar, sem querer.
Não culpem Alice. Ninguém ensinou na escola como deveria ser diante dos fracos; não fora advertida sobre os mais fraquinhos e muito menos sobre os fortes, os “fortões” desbravadores de cozinhas.
Pensando melhor, justifica seu jeito abrupto por ser o que conheceu bem cedo, mesmo não aprendendo a conviver, aprendeu, no entanto, a enfrentar. Admitindo desconhecer levezas que não a sua bem camuflada, admitindo sua total ignorância acerca da sutileza que envolve a fragilidade das coisas, dera o primeiro passo para começar a mudar. Vai tentar primeiro com os gafanhotos.
Ao final, sendo dia bom na numerologia, e gafanhotos constituem sabedoria nas artes chinesas, então, tudo compele para o lado do aprendizado sobre a força, optando pela sua não utilização, evitando ao final ser abrupta, ainda que por força da necessidade.

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