outubro 16, 2009

FOI ONTEM MESMO – 16.10.09

Foi ontem mesmo, quando elas duas se encontraram e, como sempre, pararam para relembrar alguma burrada memorável da qual sempre riam e tiravam alguma lição implícita sem o saber.
São formas de aprendizado que só ousam os que fazem amigos. Esses poucos que a gente costuma contar até o que não passa pelo pensamento exatamente como deveria. Mas, elas conversam sobre coisas alegres e tristes também.
Uma lembrara-se do cartão que mandou no Natal para o vizinho de quem não sabia nada da vida dele, depois deparando com ele e sua mulher, ou namorada. E ambas estavam juntas neste dia.
A outra, cuja vida parece mais monótona porque diz sempre que não pode sair nas sextas-feiras à noite porque no sábado faz faxina em casa. Também nunca mais falou de namoro sério, parecendo sempre a mesma garotinha colegial que admirava os rapazes só de longe.
Mas elas desconfiam sempre que uma esconde algo da outra. Dizem ser comum entre amigos esta sensação. Então, quando se encontram de tempos em tempos vão logo dizendo: conte-me tudo, não me omita nada.
Diferentemente de amigas que se veem a toda hora, o que deveria ocorrer com mais frequência porque moram na mesma cidade; mas elas duas passam tempos sem se falarem. E quando se falam é sempre por iniciativa da mais expansiva, aquela que tem sempre coisas para contar, sempre fazendo algo diferente.
A outra que fala pouco, deixa no ar certo mistério sobre o que andará aprontando por aí. Por vezes esta é motivo de pena por aquela, que percebe na amiga um tom amargo sobre a vida, as mesmas reclamações da mãe, que segundo ela não muda jamais, sempre repressora, dominante, impedindo-a de viver.
Entretanto, sentindo pena da amiga que se sente só e responsável pela mãe, ambas secretamente esperam pela morte desta mãezinha para que, finalmente ela possa viajar e sair e voltar de madrugada, relacionar-se com quem bem entender.
Não por acaso elas se questionam sobre o tempo. Ainda lhe será permitido viver outras coisas além desta vida métrica em décimos de milésimos da caridade alheia que não vem? Resta-lhe a alternativa de deixar para amanhã o momento em que será feliz.
Porém, se tem alguma coisa a ser aprendida com ela é resignação – este substantivo que só poderia ser feminino, já que se manifesta frequentemente nas mulheres, parece mais um acessório antigo, que sempre volta à moda. Mas, esta resignação soa por vezes como um desgosto por não ter a moça conquistado seu amor.
Já a outra, que pouco tem a ver com resignação, sabendo viver a vida, apesar dos altos e baixos que se envolve vezemquando, como diria um dos seus escritores preferidos, o Caio F.; já teria aceitado a amiga tal como é, até porque aprendera que raríssimas pessoas se transformam a partir do conselho de uma amiga, mesmo sendo de infância, como elas duas.
Então, ontem mesmo, depois de mais um encontro casual pelas ruas da cidade, elas combinaram que têm coisas novas para se falarem. E por reconhecer a mais prática que as mães opressoras demoram mais tempo para morrer, tem pensado em programar uma viagem para que a amiga possa talvez, vislumbrar como é bela a vida casual, com seus encontros e desencontros, mas, sobretudo, com a liberdade de ir e vir que somente nós podemos atribuir as nossas vidas.

Marcadores:

0 Comments:

Postar um comentário

<< Home