março 21, 2010

EM COMBUSTÃO – 21.03.10

Sempre fora péssima em química. Justifica o fato pelos professores anti-didáticos que tivera. Ainda assim, considera-se péssima. Mas, exatamente agora acabara Alice de sofrer uma estranha combustão que lhe queimara o último resquício de fazer-se coitada de dar dó.
Após dois finais de semanas seguidos tendo doenças por curar, coisa que detesta fazer ou façam por ela, ou que tenha que fazer por alguém. Enfim, passou. E por estar em combustão, vê-se agora desenrolando faixas que lhe cobriam o corpo. Elas são imensas, mas Alice desenrola até o final.

Neste gesto, um clic acende seu inconsciente que parecia igualmente doente, ou anestesiado pelos remédios que tomara; o fato é que nem mesmo os pequenos achaques que nem considera doenças, sumiram de repente, abrindo-lhe os olhos de ver.
E quando os olhos de ver de Alice se abrem, ocorre uma combustão que deve ser dirigida para a arte. Já não se admite tão longe das tintas e dos pincéis. Precisa deste retorno.
Ouvindo uma entrevista em inglês, da qual não depende mais da legenda para compreensão, captou em milésimos de segundos que chegara a hora de suspender a medicação, conferiu uma a uma suas feridas cicatrizadas e admitiu num salto quase imortal que é hora de voltar a sentir-se boa nas coisas que se propõe.
Como a combustão fora involuntária, impossível detê-la. De resto, após a queima, apura-se o pó que há de servir as suas severas inquietações, essas mesmas capazes de aniquilar sua produção, reduzindo a migalhas todas as suas intenções.
Intentada que se faz agora, faz-se igualmente pronta para dar continuidade às propostas que costuma assumir. Tal como aprender línguas sem saber para quê, pintar quadros sem ter parede ou avaliador, escrever um artigo que por certo brigará para publicar sem saber se será valorado no seu próximo concurso.
Mas, finalmente, terminado o seu tempo de ócio, que só poderia ser concebido e aceito por motivo de doença, acaba de descobrir o porquê de dois finais de semana dedicados ao ócio: foi o período necessário para a releitura dos avanços, vez que dos fracassos, sempre está intimada a avaliar, a vigiar, a não descuidar, a vigiar mais um pouco e alterar o quadro, por conseguinte.
Sabe que se olhando ao espelho, sua barriga não está pior porque deixou de lado os abdominais no final da semana; as olheiras estão ausentes, já que dormiu como não precisaria; apenas as unhas pedem um toque de cor, assim como os cabelos. Nada que não possa ser sanado.
Sabe mais, que este ócio a que se submetera involuntariamente e provocava a necessidade de compressas quentes nos joelhos e cotovelos e nalguns músculos específicos que doem intermitentemente, agora surtira o efeito inesperado, tridimensional e eficaz, a todos os males físicos eliminando.
E então, depois de admitir nesta semana que seu Deus é o tempo, por vezes ameaçador, outras vezes saneador, curva-se a ele mais uma vez, desta feita com medo menor, submissão na exata proporção, parceria que não comunga de nenhuma troca, mas tão somente de uma entrega cega e obstinada, que talvez professe como sua fé.
Ao final, depois de toda a combustão, restou-se nova e pronta para dar sequência aos aprendizados que até antes pareciam sem conexão com a sua vida e que agora se mostram como a mais bela simbiose de Alice e sua cultura, seus conhecimentos e seus trabalhos que no presente não lhe rendem dinheiro, por isto sempre questionados; só que agora ela sabe que alguém colherá dos frutos, porque plantar é absolutamente necessário.

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