LEMBRANÇAS DE CASAMENTO - 3/4/13
São 1h18 e Alice mais uma vez
acordada. Ao fundo, instalado um roncado que não a deixa dormir, tentando em
vão entender porque as pessoas julgam ruim uma vida sozinha como a dela.
Foi hoje o dia destinado a
relembrá-la sobre casamento. Uma situação onde levantar à noite, caminhar pela
casa silenciosa como estivesse em exercício de cegueira, tateando paredes,
memorizando posições, o apagar e acender eventual de luzes nada disto lhe vem
hoje como fato do seu cotidiano.
É que andou esquecida da vida em
comum, resolvendo dividir quarto, despesas e convivência temporária. Foi quando
rememorou delimitações e invasões de intimidade. Reviu sua intolerância
tentando mensurá-la e classifica-la como dentro ou fora da normalidade de uma
pessoa média. Aliás, aproveitou para reconhecer-se como medianamente tolerante
com seu próximo.
Tentou ir mais além buscando
resposta para o gosto de liberdade que a solidão atribui àqueles que se achegam
a ela sem reservas. Pensou no outro lado que nos adverte sobre tolerância e
sobre sermos bonzinhos para assim obtermos bênçãos, graças e tudo mais
necessário para ser feliz.
Sabe da conclusão? A mais óbvia;
aquela previsível onde nos decepcionamos ao conhecer de perto a intimidade
alheia. Mas aí vêm juntos os valores agregados na convivência, bastando ativar
um “zoom” para visualizar melhor. Mas isto é só um detalhe, se é que você me
entende.
Assim, relembrada que fora sobre
amenidades da convivência diuturna, tenta agora desenvolver suas habilidades
relacionais e para tanto desconsidera qualquer forma de critica que possa
fazer, ignora a intransigência alheia focando apenas no seu projeto traçado de
apaziguar-se com o sol, coisa que conseguiu satisfatoriamente.
Munida apenas uma mala leve, com
peças contadas e espaço no coração para ser feliz todo o tempo que estivesse
fora, nada nem ninguém iria conseguir mudar tal objetivo. Foram assim seus dias
de ser feliz debaixo do sol, de muito sol, de tanto sol que retorna com a alma
tomada da luz amarela que ativara não só sua farta melanina, mas também renovara
seus neurônios ávidos por conhecimento e talvez agora, mais suscetíveis e
tolerantes com seu semelhante.
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