junho 09, 2012

QUANDO NÃO SABE PARA ONDE IR - 09/06/12




            “Tem certos dias em que eu penso em minha gente...” é um verso sempre recorrente na vida de Alice. Nesses dias ela recorre ao tempo de infância, quando comia maçã somente se estivesse doente, após seu pai lhe perguntar o que gostaria de comer para sarar mais depressa.

            Dizia sempre querer maçã, na recorrência de uma bronquite somente reconhecida como somatização psicológica muitos anos depois de ver a mesma doença manifestar-se nas suas filhas. Tarde demais, pensava ela.

            Curou-se da mesma forma como teve início o processo: do nada. Porém, as filhas ainda não se desvincularam do mal trespassado em herança. Aliás, herança é tema controverso para Alice, buscando justificar situações onde vê transgredida a sua vontade, sempre adiada, deixada para mais tarde. Amanhã vou ser mais feliz, amanhã volto a viver, amanhã não precisarei chorar.

            E por hoje, aceita os maus tratos da vida, sua falta de tempo para viver com prazer- primeiro a obrigação – e depois também. Neste exato momento tenta fugir da vontade de espreguiçar na cama, acabar-se diante da TV, sem nenhuma ressalva. Não faz isto nem nas férias.

            A lembrança de contar somente consigo, de ter que trabalhar, e trabalhar mais um pouco, agora tem se somado à desconfiança de que as coisas ainda podem piorar. Nesses momentos pensa nas dívidas que acaso contraíra noutra vida. E quando sobe a escada para o quarto, prepara-se para ser atacada de uma forma que sabe não ter feito por merecer, efeito atenuado somente quando chega dentro do quarto e confere aliviada sua solidão.

            Pergunta-se sem resposta, sobre a origem de tais pensamentos. Inveja a tranquilidade das pessoas que transitam no meio de todos como fossem amigos de infância. Alice só consegue tal feito no meio de desconhecidos. Então, por ter uma tranquilidade em dose homeopática, visualiza a hora de estar numa cidade desconhecida, recomeçando tudo de novo.

            Não por acaso aprendeu a comer aveia em grão, jiló cru, comida feita com azeite, leite desnatado que detesta, mas que bebe assim mesmo e uma série de outros hábitos de origem desconhecida não sabendo para onde a levam, com a sensação de não ser ela a alimentada, mas outra personagem.

            Como não soubesse nem mesmo para onde ir, indo ao mesmo tempo para lugares nunca antes pensados, tentar entender comportamentos emprestados sabe-se lá de quem, há de ser tarefa interessante para Alice que começa a visualizar como exercitar outras personagens.

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