EM SURTO- 03.06.12
Fato para
enfrentamento é ter-se um dia ruim, pior que os dias comuns. Foi hoje com
Alice. Bem ao final do dia, quase pronta para enfrentar uma prova na faculdade
quando seu portão emperra e não abre, não abre, não abre...
Não conseguindo executar sua rápida rotina, altera os
planos com certa ira pessoal e intransferível. Normalmente as pessoas
descarregam a raiva no seu mais próximo. Com Alice, entretanto, é diferente.
Ela descarrega em si própria, num monólogo que talvez venha sendo sua salvação
por anos a fio evitando um surto mais sério.
Então, enquanto descia a ladeira, depois do dia haver-lhe
sugado o seu melhor, após ter-se entregue ao trabalho de pleno e comum acordo consigo
mesma, esbofeteia seu peito com um alto berro dentro do carro de vidros
fechados e música moderada, tentando acalmar-se após isto.
Nunca vira ninguém punir-se a si próprio com sua categoria.
E o faz com o requinte de crueldade não dispensado a outra pessoa nem mesmo em
pensamento, ainda que seja seu mal-humorado chefe.
Pensa então no rigor com que se policia, em igual
proporção àquele um dia dispensado às filhas. Revê se foi tudo para o bem ao
menos sete vezes por semana, com conclusões as mais diversas, incidindo
diretamente sobre o momento em que se autoavalia. Merece destaque o rigor e a falta
de piedade que aplica em tal mister, já que se tornou especialista em críticas exclusivamente
sobre sua pessoa.
Não entende muito bem porque as pessoas são tão boas
consigo e tão perversas com o próximo, já que aplica prática oposta. Atualmente
tenta entender invasões em seu arbítrio, alterando seu comportamento e suas
buscas de sorte que a levam a um sem número de autoanálises.
Conhecedora de si, da sua capacidade e da facilidade para
surtos, alguns de forma silenciosa, vê-se agora numa busca incansável de
amar-se, perdoar-se para então buscar aceitar que existe uma soberania além da
sua vontade, muito maior, exercendo pressão nas horas em que ela rejeita
posições, posturas.
Ao mesmo tempo não quer perder sua facilidade para
penetrar pontos desconhecidos, desmistificando-os e fazendo-se conhecedora,
sabe-se lá de quê e para quê, ou apenas para acumular conhecimento. O que a
move? Sua maior interrogação concentra-se nesses momentos em que não fala e não
age pessoalmente, parecendo agir em nome de alguém desconhecido, como emprestasse
seu corpo na certeza tê-lo de volta com suas humílimas vontades produzindo o
máximo esforço cerebral de que seja capaz; bem ao modo como gosta e exige do
seu cérebro.
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