PUTRESCENTE – 08/04/12
Putrescente é o estado do que está se decompondo física ou moralmente. Era termo recorrente ao pintor Salvador Dalí, da Espanha e do mundo. Em sendo do mundo, pode seu termo ser tomado emprestado para definir o que seja viver sem arte.
É quando deixamos outras vozes falar por nós. É o afastamento da nossa essência, a ausência do olhar direto no espelho, deixando a vida nos levar sem saber exatamente para onde.
Em oposição a isto, ter a arte inserida no cotidiano quer dizer estarmos despertos para nossa aparência. Vestir e comer também requer a aplicação da arte. Existem as pessoas que comem para saciar a fome, e outras que aplicam os sentidos quando degustam um alimento.
Existem os mais profundos, que comem do alimento por conhecer suas propriedades essenciais, ainda que básicas, sem a profundidade de um nutricionista que para tal mister profissionalizou-se.
A leitura que fazemos de uma personalidade transcende suas atitudes, indo parar na sua imagem. Chama-se o conjunto da obra. É assim também quando olhamos para uma tela.
Alguém olha e simplesmente satisfaz-se com a primeira impressão. Outro detém a atenção, buscando mensagens subliminares ou mesmo características próprias para definir o criador da obra. Daí a curiosidade acerca de Deus. Natural buscar um tipo para enquadrá-lo, ou simplesmente, aceitar a sua ambivalência, o que requer efeitos da desconstrução sobre a qual edificamos nossas melhores justificativas.
Assimilar a quantidade de tinta que pode um “van Gogh” propiciar aos olhos mais atentos, talvez seja um bom começo, porém não perceptível a alguém que trafegue no Louvre pela internet. Há que ser presencial.
Ainda bem que é assim, senão qual o sentido da criação e seus efeitos quase obtidos, quando quase tocados, com vontade de cheirar para uma quase real captação da intenção quando se cria a obra.
Então, imagine agora como seria encontrar uma obra viva, que anda, fala, tem vontades ilimitadas. A vontade de tocar, cheirar, analisar possibilidades de combinação deveria ser disposta a todos. É obvio que muitos conseguem tal intento melhor que os tímidos.
Entretanto, tocar, cheirar, ou apenas observar de longe, pode por vezes, desencadear um efeito incompatível de tal sorte que o interesse desaparece antes mesmo da sua concretização no plano real.
Agora, se isto se manifestar frequentemente, aí poderá ter surgido um putrescente que ainda não descobriu a que veio nesta terra. E será apenas mais um entre a maioria.
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