COMPULSÃO - 24.02.09
Tudo começa quando nasce o dia. Tem compulsão por viver. Quer viver intensamente todo o tempo. Dormir é perda de vida. Não fosse a reposição biológica um benefício direto do sono, ela já o teria abolido da sua rotina.
No ritmo atual em que se encontra resolveu assumir que quer ir embora para longe, longíssimo, “longínquamente” viver em outras terras, com outras línguas. Demorou a assumir para si uma definição das mais difíceis, porém a mais concreta que tem nas mãos, já que não se encontra por aqui.
Compulsiva por sua própria natureza, com um grau acentuado de competição em tudo quanto idealiza, idealizou sua retirada lá para onde não lhe atormentarem as lembranças. Essas serão minimizadas como na tela do editor e, eventualmente poderão ser revividas com data e hora de aparecerem, sumindo minimizadas quando começarem a aborrecer.
Como nascesse o dia com ares de chuva, começa a manhã competindo com o clima, indo para a rua bem cedo, com vontade de correr, contentando-se, entretanto, com o caminhar de quem vai tirar o pai da forca.
Ninguém na rua no feriado sem sol. Todos dormem. Ela não. Ela já delineou compulsivamente, e por ser assim, as tarefas que normalmente não dará conta de cumpri-las todas no mesmo dia. Sofre porque tem pouco tempo para escrever e estudar e ler.
Com as músicas resolveu tê-las por uma hora na caminhada de todo dia. Vai levar seu cérebro para passear juntamente com com o corpo e “Ray Charles”, “Ben Harper” e tantos outros bons no seu MP3. Mas, a compulsão incita a muito mais. Queria trocar todo dia, ou pelo menos uma vez por semana a sua companhia musical. Admite não saber administrar tão bem o seu tempo.
Entretanto, já aprendeu a dedicar certos intervalos para suas teorias que talvez um dia lhe tragam o retorno que compulsivamente almeja. Sendo assim, são pretensões perseguidas há muito e muito tempo. Bem antes do primeiro alinhamento do Sol com Júpiter. E, por conseguinte, implicam tais teorias em intermináveis estudos, ensaios, muitos dos quais, quem sabe ela nem conseguirá concluir até chegar na Índia.
De qualquer forma, continuas crendo na força dos seus mantras e já tem definido para atenuar a compulsão da produção literária, um seu desespero constante obsessivo compulsivo, que qualquer obra inacabada terá endereço e alguém encarregada de cuidar, caso interesse.
Enfim, sentiu tristeza porque em 2008 não criara nenhuma tela. Brigou com as tintas, o “oil on canvas” ficou sem espaço. Teve outros problemas com a saúde, o que a tem levado ao aprimoramento do seu dia. Propõe recria-lo de forma a obter maior prazer. Mas o trabalho não deixa. O que lhe sobra são migalhas para trabalhar com o que gosta.
Ventos noroeste indicam a aproximação de uma temporada com mais obrigações do que propriamente devoções. Devota que é da alegria e do prazer, e tudo compulsivamente, isto significa que mal terá tempo para ter-se com a inspiração, uma sua aliada com características não menos compulsivas que as suas.
Resta assim, o consolo por encontrar no seu ambiente de trabalho material suficiente para abastecer sua inspiração, ao menos para o ensaio sobre o iluminismo, onde as personagens transitam inspirando uma retórica involuntária.
Ao final, conclui que a sua compulsão é exigente, sempre presente, no entanto, muito fácil de ser satisfeita, posto que até na sua caminhada diária, sente satisfação quando ultrapassa as pessoas, deixando-as para trás, bem lá atrás, quase invisíveis. É assim também quando vai de carro se intrometendo no trânsito com a eterna pressa que não pode esperar, não pode, não pode...
Lembrou-se de quando saía de moto competindo com o portão eletrônico que ia se fechando, deixando a surpresa para a rua, se acaso alguém cruzasse ali precisando parar; não teria um plano B. Ainda assim o fazia esporadicamente, sabendo hoje, ser exercício para amansar a sua compulsão por tempo, espaço e razão de viver.
Marcadores: eu quero sempre mais...
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