ALI, “OVER THERE” – 15.03.09
Estica os dedos como alongasse os tendões do braço para iniciar os trabalhos, quando na realidade, o alongamento é dos neurônios que se prontificam ainda sonolentos para mais uma investida da inspiração, ou da ausência desta, mas que mesmo assim, é exigida uma produção para o alimento intelectual semanal interposto entre ela e o seu teclado.
Como não quisesse falar detidamente sobre a reunião familiar, seu efeito psicológico agora bem mais definido, navega então pelo seu dicionário buscando um tema, algo que lhe desperte interesse em transformar em texto.
Depois de sonhar que era mais um dos milhões de desempregados desse mundo, aumentados como formigas, repensou sobre o que faria se fosse verdade, e incrivelmente encontrou inúmeras saídas, todas estratégicas, podendo finalmente ser o que sempre quis.
Mas era um sonho. Em realidade continua trabalhando, inclusive no domingo com sol, iniciando um dia em estado de reflexão acerca do que conversara ontem, sobre lazer, passeios, viagens e a sua eterna falta de prioridade para tais coisas.
Bem secretamente, espera uma viagem diferente de todas que tivera, todas muito decepcionantes, incompletas, com a agravante de apresentarem faltas que não podiam ser assim, mas que foram. Daí a total dificuldade de sair do lugar.
Ontem foi mais um dia ofertado para observar comportamentos, entender porque os ciclos se repetem muitas vezes invertidos, porém, com um grau de similaridade que descompõe até mesmo a teoria da reconstrução, a qual sempre vem em socorro dos perdidos, daqueles que não podem mais suportar a seqüência normal de vida onde estão inseridos.
Foi também uma noite para concluir que felizes são os que partiram para cuidar da vida sozinhos, sem muito onde encostar, e que finalmente têm suas vidas desprovidas de comentários, exceto os longínquos, intangíveis, por conseguinte, inócuos. O que sobra são os efeitos capazes de roubar uma parte da noite de sono, induzindo a sonhos como estar desempregado.
Com quesitos inescrupulosamente livres para pensar, deduzir e concluir, agora é como encontrasse aberta aquela porta que sempre estivera trancada; uma vez aberta, pode-se vislumbrar ali dentro todas as justificativas pelas carências expostas e ocultas, dando-se até o direito de sentir-se desconfortável ao ver as alterações de comportamentos que beneficiam alguns em detrimento do bem-estar de outros.
Ao final, porque não perdera o emprego, não fora tratada nem melhor nem pior pelos familiares, restando a sensação de ser forte, muito forte, fortíssima para suportar tanta mudança que a consciência desencadeia nas pessoas tão somente quando envelhecem, tenta conviver placidamente com tais alterações, buscando uma força que não tem para entender porque nem todos os membros de uma mesma família são tratados com igual cuidado.
E deduz através de um sonho que as perdas são necessárias, e com um pouco de sorte, aqueles que mais perderam podem ter desenvolvido o seu lado criativo, impregnando todas as suas impressões com um pouco de realidade, sem a menor disposição para cobrar nem receber nada; apenas seguir do seu lado entendo que talvez estivesse chegando a hora de também sair de cena, deixar saudades e ir para onde a intuição antes abrira caminho, ali, “over there”.
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